Doença pode surgir após cirurgias ou em situações de risco; diagnóstico precoce evita complicações.

Silenciosa em muitos casos, mas potencialmente grave, a trombose ainda é uma condição subestimada no cotidiano de pacientes e profissionais de saúde. De acordo com dados do Ministério da Saúde, divulgados pela Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV), ela não é rara e pode afetar pessoas em diferentes fases da vida, especialmente em períodos de imobilidade ou após procedimentos cirúrgicos. A falta de informação sobre sinais precoces e medidas de prevenção faz com que muitos casos só sejam diagnosticados quando já evoluíram para quadros mais graves¹.
A trombose ocorre quando coágulos bloqueiam o fluxo de sangue em veias ou artérias. Essa obstrução compromete a circulação e pode resultar em complicações graves, como embolia pulmonar, acidente vascular cerebral e infarto. Embora qualquer cirurgia envolva algum grau de risco, a probabilidade de ocorrência varia conforme o tipo de procedimento e as condições individuais de cada paciente. Reconhecer fatores predisponentes e adotar medidas de prevenção são estratégias essenciais para reduzir o risco de complicações.
Fatores de risco para trombose
O risco é maior em situações específicas. Cirurgias de médio e grande porte, sobretudo as ortopédicas e abdominais, favorecem a formação de coágulos porque a imobilização prolongada e a resposta inflamatória do organismo contribuem para esse processo. Fatores como idade avançada, obesidade, câncer, uso de anticoncepcionais — especialmente quando associados ao tabagismo —, histórico familiar e longos períodos sem movimentação também aumentam a probabilidade de ocorrência¹.
Segundo o Ministério da Saúde, o Brasil registrou mais de 75 mil casos de trombose em 2024 e, apenas no primeiro semestre de 2025, já foram notificados mais de 36 mil diagnósticos. Para o presidente da SBACV, Dr. Armando Lobato, é preciso ampliar a atenção da população: “É fundamental que a população conheça os sinais de alerta e busque acompanhamento médico diante de sintomas suspeitos. Quanto mais cedo ocorre o diagnóstico e o início do tratamento, melhores são os resultados”, afirma.
As Diretrizes sobre Trombose Venosa Profunda da SBACV¹, publicadas em 2024, reforçam que a avaliação individual do risco é decisiva para orientar a conduta. Uma das ferramentas mais usadas é o Escore de Caprini, que permite classificar pacientes em baixo, moderado ou alto risco a partir de variáveis como idade, tempo de cirurgia, histórico de saúde e necessidade de imobilização. Essa análise ajuda o médico a definir se são suficientes medidas simples, como hidratação e movimentação precoce, ou se há necessidade de estratégias adicionais, como dispositivos mecânicos ou medicamentos anticoagulantes².
Sintomas e sinais de alerta
Parte dos casos de trombose venosa profunda (TVP) pode evoluir sem sintomas evidentes. Quando presentes, os sinais mais comuns incluem dor persistente em uma das pernas, inchaço localizado, aumento da temperatura e alteração da cor da pele. Uma diferença perceptível de volume entre os membros deve motivar avaliação médica. O exame mais indicado para confirmar a suspeita é a ultrassonografia vascular, exame seguro e não invasivo³⁴. Métodos antigos, como o chamado “sinal de Homans”, caíram em desuso por falta de precisão⁵.
A evolução mais grave ocorre quando o coágulo se desprende e alcança os pulmões, provocando a embolia pulmonar (EP). Trata-se de uma emergência médica, cujos sintomas podem incluir falta de ar súbita, dor torácica, que pode se intensificar ao respirar fundo ou tossir, palpitações e, em alguns casos, tosse com sangue ou desmaio. O diagnóstico deve ser estabelecido rapidamente com base em exames laboratoriais e de imagem, como D-dímero e angiotomografia³⁴.
Prevenção e tratamento seguro da trombose
A prevenção da trombose é definida de acordo com o risco individual. Em muitos casos, medidas simples como levantar-se e andar logo após a cirurgia, manter boa hidratação e utilizar meias de compressão quando indicado já reduzem significativamente a probabilidade de coágulos. Nos cenários de maior risco, o médico pode prescrever anticoagulantes, como a heparina de baixo peso molecular — um medicamento injetável que ajuda a evitar a formação de coágulos²³. Esse tipo de tratamento, no entanto, envolve riscos de sangramento e só deve ser usado sob prescrição e acompanhamento rigorosos.
As diretrizes médicas reforçam que, embora seja uma condição séria, a trombose pode ser prevenida em grande parte dos casos. Conhecer os fatores de risco, estar atento aos sintomas e buscar atendimento médico adequado permanecem as principais estratégias para evitar complicações como embolia pulmonar, infarto ou acidente vascular cerebral.
Referências
- Sobreira ML, Marques MA, Paschôa AF, Ribeiro AJ, Casella IB, Burihan MC, et al. Diretrizes sobre trombose venosa profunda da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular. J Vasc Bras. 2024;23:e20230107. DOI: 10.1590/1677-5449.20230107. Disponível em: https://www.scielo.br/j/jvb/a/xXdBcfVJDxGBzgVn4eHyY5h
- Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular. Consenso e Atualização na Profilaxia e no Tratamento do Tromboembolismo Venoso. 2021. Disponível em: https://sbacv.org.br/wp-content/uploads/2021/03/consenso-e-atualizacao-no-tratamento-do-tev.pdf
- Stevens SM, et al. Antithrombotic Therapy for VTE Disease: Second Update of the CHEST Guideline and Expert Panel Report. Chest. 2021;160(6):e545-e608. DOI: 10.1016/j.chest.2021.07.055. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34352278/
- Konstantinides SV, et al. 2019 ESC Guidelines for the diagnosis and management of acute pulmonary embolism. Eur Heart J. 2020;41(4):543-603. DOI: 10.1093/eurheartj/ehz405. Disponível em: https://academic.oup.com/eurheartj/article/41/4/543/5556136
- Ambesh P, et al. Homan’s sign for deep vein thrombosis: a grain of salt? Indian J Crit Care Med. 2017;21(9):611-612. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC5485383/