Exercício físico no pós-parto reduz sintomas do baby blues, aponta pesquisa

Atividade moderada pode aliviar tristeza e ansiedade nas primeiras semanas após o parto

Atividade moderada pode aliviar tristeza e ansiedade nas primeiras semanas após o parto

O período após o nascimento de um bebê é marcado por intensas transformações físicas, emocionais e sociais. Entre noites maldormidas e novas responsabilidades, muitas mulheres se deparam com alterações de humor que podem gerar insegurança e desconforto. Nesse contexto, a ciência tem buscado compreender estratégias capazes de oferecer suporte adicional ao bem-estar materno.

Uma revisão ampla de diversos estudos científicos — chamada meta-análise — publicada no British Journal of Sports Medicine (2024)¹ e outra no Frontiers in Psychology (2022)² mostram que a prática de atividades físicas moderadas no pós-parto, iniciada dentro das primeiras 12 semanas, pode diminuir a gravidade dos sintomas de tristeza, ansiedade e tensão emocional conhecidos como baby blues (tristeza transitória no pós-parto) e reduzir a probabilidade de depressão pós-parto. Os resultados apontam que pelo menos 80 minutos semanais de exercício estão associados a esses benefícios mensuráveis.¹²

O que é o baby blues e por que acontece
Logo após o parto, muitas mulheres experimentam uma combinação de irritabilidade, choro fácil, humor oscilante e sensação de fragilidade emocional. Esse fenômeno é resultado de mudanças hormonais bruscas, associadas à privação de sono e ao estresse da nova rotina.³ Ele não equivale à depressão pós-parto, que é mais intensa, prolongada e requer avaliação profissional se os sintomas persistirem.³ O baby blues atinge de 50% a 80% das mães, geralmente a partir do segundo ou terceiro dia após o parto, e tende a desaparecer em até duas semanas.³

Embora passageiro, esse estado pode ser angustiante. Entender que se trata de uma resposta fisiológica comum ajuda a reduzir sentimentos de culpa ou incapacidade. Reconhecer o baby blues como parte de um processo de adaptação também contribui para que a mulher e sua rede de apoio saibam lidar melhor com esse momento, oferecendo acolhimento e suporte emocional.

Atividade física como aliada do bem-estar no puerpério
A revisão do British Journal of Sports Medicine concluiu que intervenções no período pós-parto reduzem a severidade das alterações emocionais e diminuem em cerca de 45% a chance de desenvolver depressão pós-parto em comparação com mulheres que não praticaram exercícios.¹ Esse efeito foi mais evidente quando a atividade começou nas primeiras 12 semanas após o parto.

Já a meta-análise publicada no Frontiers in Psychology analisou ensaios clínicos randomizados e apontou que diferentes modalidades — como caminhadas, alongamentos, yoga leve ou atividades em grupo — com duração mínima de doze semanas e intensidade semanal de ao menos 150 minutos geram melhorias significativas em sintomas depressivos no período perinatal.² Essas pesquisas reforçam que a prática de exercícios não “cura” o baby blues, mas se configura como ferramenta adjunta valiosa para aliviar desconfortos emocionais.

Limites e cuidados necessários
Um ensaio clínico publicado no BMC Pregnancy and Childbirth (2021) investigou mulheres com alto risco de depressão pós-parto e baixo nível de atividade física habitual.⁴ O estudo comparou intervenção via exercícios, intervenção de bem-estar (com foco em sono e alimentação) e cuidados usuais. Após seis meses, o grupo de exercício apresentou redução estatisticamente significativa do estresse percebido, embora a incidência de depressão clínica tenha sido baixa em todos os grupos, o que dificultou conclusões definitivas sobre prevenção.⁴

A principal mensagem é clara: o exercício físico não previne o baby blues, mas pode ser um aliado importante para aliviar sintomas e melhorar o bem-estar nessa fase de adaptação. Se os sinais de tristeza não melhorarem após duas semanas, piorarem progressivamente ou forem intensos a ponto de comprometer o cuidado com o bebê e com a própria mãe, pode haver indício de depressão pós-parto, condição que exige acompanhamento médico e psicológico. Procurar ajuda não é sinal de fraqueza, mas de coragem e cuidado.

Acima de tudo, é essencial compreender que o baby blues não é resultado de falha pessoal. Trata-se de um processo natural e transitório, que atinge a maioria das mulheres no puerpério. A prioridade deve ser a recuperação gradual do corpo e da mente, bem como a adaptação ao bebê, sem cobranças excessivas. Reconhecer essa realidade é um passo fundamental para viver esse período com mais leveza e saúde emocional.

Referências

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Eduardo Amaro

Psicólogo especializado em neurociência e comportamento humano pela PUC-SP, com atuação dedicada à promoção da saúde mental no contexto hospitalar e materno-infantil

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