Câncer de pele: o mais frequente no Brasil e seus diferentes tipos

Carcinoma basocelular é o tumor cutâneo mais comum no país, enquanto o melanoma concentra a maior parte das mortes

O câncer de pele é o tipo de tumor mais frequente no Brasil e no mundo. De acordo com a Estimativa 2023–2025 do Instituto Nacional de Câncer (INCA), ele representa cerca de um em cada três novos diagnósticos oncológicos no país¹. Esse dado evidencia a dimensão do problema de saúde pública. 

Não se trata de uma única doença, mas de um grupo de tumores com características próprias: o carcinoma basocelular, o carcinoma espinocelular e o melanoma. Cada um apresenta comportamento, risco de complicações e formas de tratamento diferentes, o que torna essencial compreender suas particularidades.

Carcinoma basocelular: o mais frequente

O carcinoma basocelular (CBC) é o tipo de câncer de pele mais comum, respondendo por 80% a 90% dos casos não melanoma. A mortalidade é praticamente nula, inferior a 0,1%. Nesses casos raros, o óbito decorre de destruição local extensa ou complicações em pacientes imunossuprimidos. O tumor pode invadir cartilagem e osso, provocando deformidades e comprometendo funções — como quando atinge pálpebras e afeta a visão ou compromete nariz e orelhas².

Carcinoma espinocelular: mais agressivo que o basocelular

O carcinoma espinocelular (CEC) é menos frequente que o CBC, mas apresenta maior agressividade. Pode levar a óbito quando se dissemina para linfonodos e órgãos internos, sobretudo em pacientes imunossuprimidos ou em lesões negligenciadas. A taxa de mortalidade média varia entre 1% e 5%, podendo chegar a 20% nos casos metastáticos. Clinicamente, costuma aparecer como feridas que não cicatrizam, áreas ásperas e descamativas ou lesões que crescem progressivamente³.

Melanoma: o mais letal

O melanoma é o subtipo mais grave de câncer de pele. Embora represente apenas cerca de 4% dos diagnósticos anuais no Brasil — em torno de 9 mil novos casos⁴ —, responde por quase 80% das mortes relacionadas a tumores cutâneos⁴. O país registra mais diagnósticos de melanoma do que de câncer de fígado e a mortalidade é semelhante à do câncer de colo do útero em estágios avançados⁵. O melanoma causa mortes devido ao seu alto potencial de metástase, atingindo órgãos vitais como pulmões, fígado, cérebro e ossos⁶. Quando identificado em estágios iniciais, a taxa de sobrevida supera 90%⁷; em fases avançadas, esse índice despenca⁷.

Diagnóstico e detecção precoce

Não existe hoje um programa nacional de rastreamento populacional para câncer de pele, como ocorre com mamografia ou papanicolau⁸. O acompanhamento periódico com dermatologista é recomendado sobretudo para pessoas de risco — indivíduos de pele clara, com múltiplas pintas, histórico familiar de melanoma ou imunossuprimidos.

A dermatoscopia, exame não invasivo com lente de aumento e luz polarizada, permite observar estruturas invisíveis a olho nu e aumenta a precisão na detecção de melanomas iniciais⁹. Um estudo retrospectivo de 2023 mostrou que a técnica identificou alterações sutis em pacientes de alto risco antes de se tornarem clinicamente evidentes⁹. No Brasil, levantamento de 2020 apontou uso crescente deste exame por dermatologistas, tanto para monitorar pintas quanto para diagnosticar melanomas precoces¹⁰.

Para auxiliar na identificação precoce, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) recomenda a regra do “ABCDE”: A de assimetria, quando a pinta tem formato irregular; B de bordas mal definidas; C de cores variadas; D de diâmetro maior que seis milímetros; e E de evolução, quando há mudança rápida no tamanho, forma ou cor¹¹. O diagnóstico definitivo é feito pela biópsia ¹¹.

Abordagens terapêuticas

O tratamento do carcinoma basocelular e do carcinoma espinocelular costuma ser cirúrgico. A retirada pode ser feita por excisão simples ou pela chamada cirurgia de Mohs, em que o tumor é removido em camadas sucessivas e analisado ao microscópio em tempo real até confirmar a eliminação total das células cancerígenas, preservando o máximo de tecido saudável. Esse método é especialmente indicado em áreas delicadas do rosto. Em casos selecionados, pode-se recorrer à radioterapia ou à criocirurgia¹².

O melanoma também tem a cirurgia como base do tratamento, mas exige margens maiores e, em alguns casos, avaliação do linfonodo sentinela, o primeiro gânglio linfático que recebe a drenagem da região do tumor e indica se houve disseminação da doença. Diretrizes clínicas, como as do National Comprehensive Cancer Network (NCCN), apontam ainda imunoterapia e terapias-alvo como alternativas em estágios avançados¹³.

O papel da exposição solar

A principal causa de câncer de pele é a exposição inadequada à radiação ultravioleta (UV). Um estudo internacional de 2025 estimou que 83% dos melanomas diagnosticados em 2022 estavam diretamente ligados à radiação solar. O risco foi maior entre homens (86%) do que em mulheres (79%) e aumentou com a idade, alcançando 86% nas pessoas acima de 70 anos. A mesma pesquisa projeta que, se nada mudar, até 2040 o mundo poderá registrar mais de 510 mil novos casos e 96 mil mortes por melanoma¹⁴.

Essas evidências demonstram que o câncer de pele é, em grande parte, prevenível. Estratégias simples — evitar sol intenso entre 10h e 16h, usar chapéus, roupas adequadas e aplicar protetor solar diariamente — reduzem substancialmente o risco.

A mensagem central é única: qualquer alteração cutânea suspeita deve ser avaliada por um médico. Feridas que não cicatrizam, pintas que mudam de cor, tamanho ou formato, além de manchas que sangram ou doem, merecem atenção imediata.

Referências

Picture of Deborah Lima

Deborah Lima

Jornalista do Saúde a Sério

Veja também

Receba nossa Newsletter

Cadastro realizado com sucesso!

Aproveite e visite nossas redes sociais!