Primavera traz risco maior de doenças respiratórias em crianças?

Oscilações de temperatura, ar seco e circulação de vírus tornam a estação um período de atenção especial para a saúde infantil

A primavera é tradicionalmente associada ao florescimento de árvores e plantas típicas da estação e ao clima mais ameno, mas também marca um período de aumento de doenças respiratórias em crianças no Brasil. Em 2025, relatórios do InfoGripe, da Fiocruz, mostraram que o vírus sincicial respiratório (VSR) — principal causa de bronquiolite e pneumonia em bebês e crianças pequenas — começou a circular de forma intensa já no fim de março e manteve níveis elevados nos meses seguintes¹ ². Um estudo publicado no Journal of Infectious Diseases mostrou que esse padrão de sazonalidade é recorrente em todas as regiões do país, com impacto maior justamente nas estações de transição, como a primavera³.

Vírus respiratórios em alta durante a primavera

Os números ajudam a dimensionar esse cenário. Dados oficiais de internações hospitalares do Ministério da Saúde indicam que, em 2023, o VSR respondeu por cerca de 40% das hospitalizações por infecções respiratórias agudas em crianças menores de dois anos durante os meses de maior circulação viral⁴. Já no caso da influenza (o vírus da gripe), boletim epidemiológico mostrou que, em 2024, os casos aumentaram logo após o inverno e se prolongaram pela primavera⁵. Embora muitas vezes seja confundida com resfriados comuns, a gripe pode provocar febre alta, mal-estar intenso e levar a complicações graves, como pneumonia, especialmente em crianças pequenas.

Fatores ambientais e alergias

Além das infecções virais, a própria estação favorece fatores ambientais que afetam o sistema respiratório. O pólen liberado pelas plantas, a poeira acumulada em ambientes internos e a poluição urbana podem agravar quadros de rinite e asma. Documento de referência nacional, o V Consenso Brasileiro sobre Rinites, atualizado em 2024, reforça que crianças alérgicas tendem a apresentar mais crises nesses períodos e precisam de acompanhamento adequado⁶.

Crianças mais vulneráveis e medidas de prevenção

Alguns grupos infantis exigem atenção especial. Prematuros e crianças com doenças cardíacas, pulmonares ou imunológicas têm risco maior de desenvolver formas graves de infecções respiratórias e, por isso, estão entre os que mais se beneficiam de medidas de prevenção e diagnóstico precoce.

Diante desse cenário, a Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda manter o calendário de vacinação atualizado — em especial a vacina contra a gripe — e adotar cuidados simples, como manter os ambientes ventilados, reduzir poeira e mofo e evitar a exposição à fumaça de cigarro⁷. Pais e responsáveis também devem observar sinais de alerta, como chiado persistente, respiração acelerada, febre contínua e dificuldade para se alimentar, que exigem avaliação médica imediata.

Com base em evidências científicas e dados nacionais, pode-se afirmar que a primavera representa, sim, um período de maior risco para doenças respiratórias em crianças. A combinação da circulação mais intensa de vírus e do aumento de alérgenos ambientais explica por que a estação exige atenção redobrada das famílias e acompanhamento próximo dos serviços de saúde.

Para levar a sério…

– A primavera aumenta o risco de doenças respiratórias em crianças, com destaque para vírus como o VSR (vírus sincicial respiratório) e a influenza.
– Crianças menores de cinco anos, especialmente prematuros e portadores de doenças cardíacas ou pulmonares, estão entre os grupos mais vulneráveis.
– O VSR é a principal causa de bronquiolite e pneumonia infantis, respondendo por grande parte das internações pediátricas em períodos de maior circulação viral.
– Fatores ambientais típicos da estação — como pólen, poeira doméstica e poluição — agravam quadros de rinite alérgica e asma infantil.
– A vacinação contra gripe continua sendo medida essencial para reduzir complicações e hospitalizações.
– Atenção aos sinais de alerta: chiado no peito, febre persistente, respiração acelerada e dificuldade para se alimentar devem motivar procura imediata por atendimento médico.

Referências

  1. Fiocruz – InfoGripe. Alerta para o início da temporada do VSR no país (28/03/2025). Disponível em: https://fiocruz.br/noticia/2025/03/infogripe-alerta-para-o-inicio-da-temporada-do-vsr-no-pais. Acesso em 22 set. 2025.
  2. Fiocruz – InfoGripe. Casos de VSR em crianças se mantêm em níveis elevados (08/08/2025). Disponível em: https://fiocruz.br/noticia/2025/08/infogripe-casos-de-vsr-em-criancas-se-mantem-em-niveis-elevados. Acesso em 22 set. 2025.
  3. Freitas ARR, et al. Respiratory syncytial virus seasonality in Brazil. J Infect Dis. 2016;214(Suppl 2):S99–S106. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC4878298/. Acesso em 22 set. 2025.
  4. Ministério da Saúde – DATASUS. Sistema de Informações Hospitalares. Internações por infecção respiratória aguda em menores de 2 anos, Brasil, 2023. Disponível em: https://datasus.saude.gov.br/. Acesso em 22 set. 2025.
  5. Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico – Volume 56, nº 6 (13/05/2025): Cenário epidemiológico da covid-19, influenza e outros vírus respiratórios no Brasil: SE 1 a SE 52 de 2024. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/centrais-de-conteudo/publicacoes/boletins/epidemiologicos/edicoes/2025/boletim-epidemiologico-volume-56-no-6-13-de-mai.pdf. Acesso em 22 set. 2025.
  6. Solé D, et al. V Brazilian Consensus on Rhinitis – 2024. Braz J Otorhinolaryngol. 2025. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC11497470/. Acesso em 22 set. 2025.
  7. Sociedade Brasileira de Pediatria. Calendário de Vacinação – Atualização 2024/2025. Disponível em: https://www.sbp.com.br/departamentos/imunizacoes/documentos-cientificos/. Acesso em 22 set. 2025.
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Deborah Lima

Jornalista do Saúde a Sério

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