
O câncer de mama é o tipo de tumor mais frequente entre mulheres no Brasil e no mundo, sendo a principal causa de morte por câncer na população feminina, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer (INCA)¹. A detecção precoce é considerada a estratégia mais eficaz para reduzir os óbitos, e a mamografia é o método de rastreamento com maior impacto comprovado nesse processo¹.
As entidades médicas brasileiras vêm defendendo há anos que o rastreamento deva começar aos 40 anos, com mamografia anual. Essa posição foi registrada em comunicados técnicos publicados a partir de 2017 e reforçada em parecer conjunto de 2021 assinado pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), o Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e a Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (FEMAMA). No documento, as associações destacaram que cerca de 30% dos casos de câncer de mama no Brasil ocorrem antes dos 50 anos².
Apesar desse posicionamento, até recentemente o protocolo oficial do Sistema Único de Saúde (SUS) previa mamografia de rotina apenas para mulheres de 50 a 69 anos, com repetição a cada dois anos³. Em setembro de 2025, segundo esclarecimento da FEMAMA, o rastreamento ativo foi ampliado para a faixa de 50 a 74 anos, mantendo a periodicidade bienal. Já para mulheres de 40 a 49 anos, não houve inclusão em programa organizado: a decisão foi pela modalidade chamada “rastreamento sob demanda”, ou seja, mediante solicitação médica, sem convocação ativa ou periodicidade definida⁴.
A mamografia permanece como o principal exame de rastreamento capaz de reduzir a mortalidade, mas existem métodos que podem ser usados como complemento em situações específicas. A ultrassonografia das mamas, por exemplo, não substitui a mamografia, mas pode ser indicada em mulheres com mamas densas — condição mais comum em mulheres mais jovens, que dificulta a visualização de alterações pelo exame radiográfico — ou quando há necessidade de esclarecer achados identificados no rastreamento, como diferenciar um nódulo sólido de um cisto⁵,⁶. Já os exames de sangue chamados marcadores tumorais, como CA 15-3 e CA 27.29, não têm papel no rastreamento ou na prevenção em mulheres sem sintomas. De acordo com as Diretrizes da NCCN (National Comprehensive Cancer Network), esses testes são utilizados apenas no acompanhamento de pacientes já diagnosticadas, seja para avaliar a resposta ao tratamento ou identificar se a doença voltou⁷.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia, antecipar o início do rastreamento é fundamental para aumentar as chances de diagnóstico precoce, reduzir complicações e oferecer tratamentos menos invasivos². A FEMAMA, por sua vez, reforça que ainda não há rastreamento ativo para mulheres de 40 a 49 anos e defende a criação de um programa organizado de busca ativa anual para esse grupo, condição essencial para reduzir a mortalidade e aumentar as chances de cura⁴.
Mais do que uma mudança administrativa, a discussão sobre a idade de início da mamografia reforça a importância de que protocolos médicos baseados em evidências sejam seguidos de forma consistente. O alinhamento entre recomendações científicas e práticas de saúde é essencial para garantir diagnósticos mais precisos e reduzir o impacto do câncer de mama na população feminina¹,².
Referências
- Ministério da Saúde. Linhas de Cuidado – Câncer de Mama: rastreamento e diagnóstico precoce. Disponível em: https://linhasdecuidado.saude.gov.br/portal/cancer-de-mama/unidade-de-atencao-primaria/rastreamento-diagnostico/
- Sociedade Brasileira de Mastologia. Entidades médicas reforçam importância da mamografia a partir dos 40 anos e encaminham parecer técnico à ANS. 2021. Disponível em: https://sbmastologia.com.br/para-a-populacao/entidades-medicas-reforcam-importancia-da-mamografia-a-partir-dos-40-anos-e-encaminham-parecer-tecnico-a-ans/
- Instituto Nacional de Câncer (INCA). Diretrizes para a Detecção Precoce do Câncer de Mama. Rio de Janeiro: INCA; 2015.
- FEMAMA. FEMAMA traz esclarecimentos sobre as decisões do CONSINCA em relação à recomendação da mamografia no Brasil. Publicado em 24 set. 2025. Disponível em: https://femama.org.br/noticias/femama-esclarece-decisoes-consinca-mamografia
- FEBRASGO. Rastreamento do câncer de mama: recomendações para a prática clínica. Rev Bras Ginecol Obstet. 2023. Disponível em: https://www.febrasgo.org.br/images/pec/FPS—N8—Setembro-2023—portugues-2.pdf
- Urban LAB, et al. Breast cancer screening in women with dense breasts: role of ultrasound as an adjunct to mammography. Radiol Bras. 2015;48(5):329-36. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rb/a/mdrskx4dDvTfVZxqkFp8ZKr/
- NCCN Clinical Practice Guidelines in Oncology (NCCN Guidelines®). Breast Cancer. Version 3.2025. Disponível em: https://www.nccn.org/professionals/physician_gls/pdf/breast.pdf