Dietas da Moda: O Que a Ciência Realmente Diz?

Estudos científicos mostram que promessas rápidas de emagrecimento não se sustentam e que equilíbrio e adesão são decisivos

Promessas de emagrecimento rápido sempre atraem atenção. Em um cenário marcado pelo excesso de informações — e também de desinformações —, proliferam dietas da moda chamadas “milagrosas”, muitas vezes sem respaldo científico consistente¹. Uma revisão publicada em 2014 no Journal of the American Medical Association (JAMA), revista médica dos Estados Unidos, analisou mais de 7 mil pessoas em diversos países e concluiu que a perda de peso entre diferentes dietas é muito parecida¹. Um estudo mais recente, de 2023 no BMJ, reforçou esse achado, mostrando que os efeitos de diferentes programas de emagrecimento são pequenos e diminuem com o tempo².

Dietas da moda e alimentos “milagrosos”

É comum a divulgação de supostos alimentos para emagrecer capazes de promover perda de peso isoladamente. No entanto, não existe evidência robusta de que um único item da dieta seja responsável por resultados significativos. O emagrecimento saudável depende de fatores combinados, como déficit calórico moderado, alimentação equilibrada e prática regular de atividade física².

O chá verde para emagrecer, por exemplo, embora saudável e rico em antioxidantes, teve seu efeito considerado mínimo e sem relevância clínica em uma análise de 2024³. A combinação de água com limão em jejum, frequentemente associada a desintoxicação, também não tem efeito comprovado. O corpo já realiza naturalmente esse processo por meio do fígado e dos rins⁴. Alimentos termogênicos, como gengibre e pimenta, podem aumentar discretamente o gasto energético, mas o impacto no peso corporal é modesto⁵. O óleo de coco, por sua vez, embora difundido como “gordura boa”, não apresentou benefício para perda de peso em revisões recentes⁶.

Os chamados sucos detox continuam sem respaldo científico. A perda de peso associada a esse tipo de dieta está ligada à forte restrição calórica, resultando sobretudo em perda de água e massa muscular⁷. Já a substituição de açúcar por adoçante foi revisada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2023, que concluiu não haver evidência de benefício consistente para controle de peso. Em alguns casos, o uso frequente de adoçantes artificiais pode até aumentar a preferência por alimentos doces⁸.

Dietas populares e suas limitações

Dietas milagrosas com promessas rápidas de resultados sempre ressurgem com novos nomes ou formatos. No entanto, ao olhar para os dados, o que se observa são limitações semelhantes: eficácia restrita e dificuldade de manutenção a longo prazo.

A dieta do HCG, por exemplo, combina o uso do hormônio com ingestão diária de apenas 500 calorias. Revisões científicas já mostraram que a perda de peso ocorre exclusivamente pela restrição calórica, e não pelo hormônio⁹. A dieta da sopa, outra prática difundida, promove perda rápida apenas de água e massa magra, com baixa qualidade nutricional e alta monotonia alimentar¹⁰.

O modelo da dieta Dukan, centrado em excesso de proteínas e restrição drástica de carboidratos, foi alvo de alertas de sociedades médicas devido ao risco de sobrecarga renal e deficiências nutricionais¹¹. A chamada dieta do tipo sanguíneo, apesar da popularidade, não encontrou qualquer respaldo em revisões científicas que comprovem benefício¹².

A dieta alcalina também foi investigada em revisões recentes, sem evidências de que altere o equilíbrio do pH do corpo, que é regulado naturalmente por mecanismos fisiológicos¹³. O jejum intermitente, quando praticado de forma moderada, pode ter benefícios, mas ensaios clínicos demonstraram que sua eficácia não supera a de dietas baseadas em restrição calórica contínua¹⁴. Protocolos extremos, além de não trazerem vantagens, aumentam o risco de compulsão e carências nutricionais.

Outro exemplo é a chamada dieta detox de três dias, em que o consumo se restringe a sucos. Revisões científicas mostraram que a perda de peso observada nesse tipo de prática está associada apenas à redução hídrica e muscular¹⁵. A dieta da combinação de alimentos, que proíbe o consumo simultâneo de proteínas e carboidratos, também foi avaliada em ensaio clínico e não apresentou qualquer vantagem¹⁶.

A dieta paleolítica, em sua forma mais restritiva, ao eliminar grupos alimentares importantes como laticínios, grãos e leguminosas, pode causar deficiências de cálcio, vitamina D e fibras¹⁷. Já a dieta cetogênica, apesar de gerar perda de peso no curto prazo, não se mostrou segura ou eficaz sem acompanhamento profissional, especialmente quando mantida por períodos longos¹⁸.

O que a ciência realmente aponta sobre emagrecimento

As análises mais amplas reunindo milhares de participantes mostram que a diferença na perda de peso entre as diversas dietas da moda é pequena. O ponto central é que a aderência à dieta, e não o tipo específico de padrão alimentar, determina o sucesso a longo prazo¹,².

Diretrizes do National Institutes of Health (NIH, órgão de pesquisa em saúde dos Estados Unidos), do Centers for Disease Control and Prevention (CDC, agência federal de saúde pública dos EUA), do Ministério da Saúde do Brasil, por meio do Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas de Obesidade de 2022, e da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO) reforçam que o emagrecimento saudável resulta de redução calórica sustentável, equilíbrio nutricional e prática regular de exercícios¹⁹.

Em comum, essas estratégias mostram resultados limitados e dificuldade de manutenção sem mudanças duradouras no estilo de vida.

A mensagem final é clara: sustentabilidade no emagrecimento e equilíbrio são mais importantes do que restrições extremas ou a crença em alimentos milagrosos.

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Deborah Lima

Jornalista do Saúde a Sério

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