Meningite: nem sempre é grave, mas toda suspeita exige rapidez

Doença pode ter causas virais ou bacterianas; vacinação e diagnóstico precoce são fundamentais para evitar sequelas e mortes

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A meningite é uma infecção das meninges — as membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal — provocada por diferentes agentes, como bactérias, vírus, fungos ou parasitas¹. Embora algumas formas tenham evolução leve, o risco de complicações e sequelas faz com que cada caso seja tratado como emergência médica até que se prove o contrário. Entre janeiro e abril de 2025, o Brasil registrou 1.980 casos e 168 mortes por meningite, segundo o Ministério da Saúde² — um aumento em relação a 2024, quando foram notificados 1.654 casos e 139 óbitos. Especialistas atribuem a alta à queda na cobertura vacinal, que ainda não voltou aos níveis anteriores à pandemia. Mesmo com vacinas e tratamentos eficazes, o país ainda enfrenta surtos localizados e falhas de cobertura, o que mantém a meningite sob vigilância constante das autoridades de saúde.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a meningite ainda causa mais de 250 mil mortes por ano no mundo¹, o que reforça a importância da prevenção global.

Meningite bacteriana e viral: diferenças e riscos

Como o próprio nome indica, a meningite bacteriana é causada por bactérias como Neisseria meningitidis, Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenzae tipo B, responsáveis pelas formas mais graves da doença. Sem tratamento imediato, as infecções podem causar uma infecção generalizada (sepse), queda brusca da pressão arterial e falência de órgãos. Mesmo com atendimento adequado, a letalidade média varia de 5% a 10%, e as sequelas neurológicas — como perda auditiva, epilepsia e déficits cognitivos — podem ocorrer em até 20% dos sobreviventes, segundo dados da OMS e dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês)⁴.

A meningite viral, causada por vírus como os enterovírus — grupo responsável também por resfriados e infecções intestinais leves —, o herpesvírus e o varicela-zóster, é mais comum e geralmente se resolve sozinha, sem o uso de antibióticos, já que esses medicamentos não atuam contra vírus. O tratamento inclui repouso, hidratação e controle da febre. Essas infecções costumam ocorrer com mais frequência nos meses quentes e úmidos, quando há maior circulação de pessoas em ambientes fechados. Já as meningites fúngicas, parasitárias ou tuberculosas, menos frequentes, atingem principalmente pessoas com imunidade comprometida e exigem terapias específicas e prolongadas⁵.

Sintomas de meningite: quando procurar ajuda médica

Os sintomas iniciais são semelhantes em quase todos os tipos e devem acender o alerta: febre alta, dor de cabeça intensa, rigidez no pescoço, náuseas, vômitos, confusão mental e sensibilidade à luz¹⁰, segundo a OMS e o Ministério da Saúde⁸. Manchas vermelhas na pele que não desaparecem à pressão e convulsões indicam gravidade.

Nos bebês, sinais como irritabilidade constante, recusa para mamar e abaulamento da fontanela (moleira) exigem avaliação médica imediata. O diagnóstico e o tratamento são realizados em serviços de urgência e hospitais do SUS. Quanto antes o atendimento, maiores as chances de cura sem sequelas. Diante de qualquer suspeita, é essencial procurar um profissional de saúde — e nunca se automedicar.

Diagnóstico: o papel do líquor e do atendimento rápido

O diagnóstico é feito pela análise do líquido cefalorraquidiano — o líquor, fluido que envolve o cérebro e a medula espinhal, coletado por punção lombar sob anestesia local. O exame permite identificar o agente causador e orientar o tratamento. Se houver risco de aumento da pressão dentro do crânio, o exame é precedido por tomografia computadorizada.

De acordo com o Ministério da Saúde, quando o tratamento é iniciado nas primeiras 24 horas, o risco de morte cai em até 50%, e as chances de sequelas neurológicas diminuem mais de 60%⁸. Em crianças, um estudo publicado no Open Forum Infectious Diseases — periódico internacional de doenças infecciosas ligado à Oxford University Press — mostrou que o uso precoce de dexametasona ajuda a reduzir danos neurológicos e auditivos causados pela meningite bacteriana⁹.

Novas diretrizes da OMS: atualização no tratamento

Em abril de 2025, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou suas primeiras diretrizes globais para o diagnóstico e o tratamento da meningite³. O documento reforça práticas já adotadas, mas agora padronizadas em escala internacional para acelerar o atendimento e reduzir sequelas. As orientações valem para todos os países e buscam unificar o manejo da doença, especialmente em regiões de alta incidência, como África e América Latina.

As recomendações incluem iniciar o antibiótico imediatamente, sem aguardar o resultado dos exames, associar corticoide (dexametasona) em casos suspeitos de meningite pneumocócica e oferecer antibiótico preventivo a pessoas que tiveram contato direto com pacientes diagnosticados. A OMS também reforça que ampliar a vacinação é a principal estratégia para reduzir mortes e surtos até 2030.

Vacinação: a principal forma de prevenção

A vacinação é o meio mais eficaz de prevenir a meningite e reduzir suas formas graves. O Programa Nacional de Imunizações (PNI) disponibiliza vacinas contra Haemophilus influenzae tipo B (Hib), Streptococcus pneumoniae (pneumocócica) e Neisseria meningitidis tipo C. Pelo calendário do SUS, a vacina meningocócica C é aplicada aos 3 e 5 meses, com reforço aos 12 meses. Desde 2025, o reforço passou a ser feito com a vacina meningocócica ACWY, que amplia a proteção contra quatro sorogrupos da bactéria — A, C, W e Y — responsáveis por surtos e casos graves em várias regiões do mundo. A mudança tem como objetivo aumentar a cobertura e prevenir a circulação de cepas emergentes, especialmente entre crianças pequenas. A introdução da vacina ACWY no SUS está sendo feita de forma escalonada, priorizando estados com maior incidência da doença, conforme o avanço do Programa Nacional de Imunizações⁶.

Na rede pública, as vacinas estão disponíveis gratuitamente nos postos de saúde do SUS, tanto no calendário infantil quanto em campanhas para adolescentes e grupos de risco. Já na rede privada, o esquema segue o calendário da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), que inclui vacinas meningocócicas ACWY e B. A vacina meningocócica B é indicada a partir dos 3 meses de idade, com duas doses e um reforço no segundo ano de vida, e protege contra uma cepa não coberta pelas vacinas públicas. Pais e cuidadores podem procurar clínicas particulares quando houver atraso no calendário do SUS, recomendação médica específica ou risco aumentado de exposição.

Segundo o PNI, a imunização reduz em mais de 90% as formas graves da meningite bacteriana. Em 2024, a cobertura nacional da vacina meningocócica estava em cerca de 77%, abaixo da meta de 95%, segundo a OPAS⁷ — o que reforça a importância de manter o esquema vacinal atualizado.

Grupos de risco e profilaxia

A OMS também destaca a importância da profilaxia de contatos — o uso preventivo de antibióticos por familiares e pessoas próximas de quem teve meningite meningocócica. Essa medida ajuda a interromper a cadeia de transmissão e faz parte das ações de saúde pública em surtos.

Entre os grupos mais vulneráveis estão bebês com menos de um ano, idosos, pessoas com imunodeficiências, doenças crônicas ou exposição profissional a secreções respiratórias. Para esses grupos, tanto a prevenção quanto o reconhecimento precoce dos sintomas são fundamentais.

Qualquer quadro de febre alta com rigidez no pescoço, dor de cabeça intensa ou confusão mental deve ser tratado como emergência médica. Após o tratamento, recomenda-se acompanhamento com especialistas em otorrinolaringologia e neurologia, já que algumas sequelas — como perda auditiva ou dificuldades cognitivas — podem aparecer semanas ou meses depois da alta.

A meningite é uma doença que a medicina já sabe controlar, mas que ainda depende de resposta rápida e prevenção contínua. Cada hora conta. Reconhecer os sinais, buscar atendimento e manter a vacinação em dia são atitudes que podem fazer a diferença entre uma recuperação completa e complicações graves. Tempo e vacina salvam vidas — e a informação é o primeiro passo.

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  1. World Health Organization (WHO). Meningitis fact sheet. Geneva: WHO; 2025. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/meningitis
  2. Ministério da Saúde (Brasil). Boletim Epidemiológico de Meningites 2025. Brasília: MS; 2025. Disponível em: https://www.gov.br/saude/boletins
  3. World Health Organization (WHO). Global Roadmap to Defeat Meningitis by 2030. Geneva: WHO; 2025. Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/global-roadmap-defeat-meningitis-2030
  4. Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Meningococcal Disease Data and Statistics. Atlanta: CDC; 2024. Disponível em: https://www.cdc.gov/meningococcal/data/index.html
  5. Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Guia de Vigilância Epidemiológica de Meningites. Brasília: OPAS; 2024. Disponível em: https://www.paho.org/pt/topics/meningitis
  6. Ministério da Saúde (Brasil). Calendário Nacional de Vacinação 2025. Brasília: MS; 2025. Disponível em: https://www.gov.br/saude/vacinacao
  7. Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Cobertura vacinal na América Latina 2024. Brasília: OPAS; 2024. Disponível em: https://www.paho.org/pt/topics/immunization
  8. Ministério da Saúde (Brasil). Protocolo Clínico de Meningites Bacterianas Agudas. Brasília: MS; 2024. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pcdt
  9. Oxford University Press. Open Forum Infectious Diseases — Adjunctive Dexamethasone in Bacterial Meningitis: A Meta-analysis of Clinical Outcomes. 2024. Disponível em: https://academic.oup.com/ofid
  10. World Health Organization (WHO). Meningitis Symptoms and Diagnosis. Geneva: WHO; 2025. Disponível em: https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/meningitis

Equipe Saúde a Sério

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