Quando subir escadas vira um desafio: o impacto invisível da Hipertensão Arterial Pulmonar

Doença rara e progressiva compromete a capacidade física, afeta mais mulheres em idade ativa e ainda leva tempo para ser diagnosticada

Tempo de Leitura: 3 minutos

A Hipertensão Arterial Pulmonar (HAP) é uma doença rara e crônica que provoca o aumento anormal da pressão nas artérias pulmonares — os vasos que transportam o sangue do coração para os pulmões¹. Esse aumento faz com que o ventrículo direito (a câmara do coração que bombeia sangue para os pulmões) trabalhe com esforço extra, reduzindo a oxigenação do corpo e causando sintomas como falta de ar, cansaço e dor no peito¹ ². Embora não tenha cura, o tratamento adequado pode desacelerar a progressão e melhorar a qualidade de vida.

Estudos indicam que entre 15 e 50 pessoas por milhão de habitantes convivem com a doença². O número pode parecer pequeno, mas o impacto é expressivo: a HAP interfere na autonomia, na disposição e até na saúde mental — especialmente entre mulheres em idade fértil.

O diagnóstico ainda é demorado

O diagnóstico costuma levar tempo. Em média, os pacientes esperam de sete meses a dois anos entre os primeiros sintomas e a confirmação³. Nesse período, muitos passam por diferentes especialistas e são tratados por problemas cardíacos ou respiratórios que não correspondem à verdadeira causa³. Sem o manejo correto, a sobrevida média cai para cerca de três anos³, o que reforça a importância de reconhecer precocemente os sinais.

Os sintomas são vagos e podem ser confundidos com os de outras doenças. Falta de ar (78%), fadiga (65%) e **dor ou pressão no peito (33%)**³ estão entre as queixas mais comuns. Por isso, o clínico geral ou o cardiologista costumam ser os primeiros a atender esses pacientes. Em muitos casos, o diagnóstico definitivo só ocorre quando a doença já está em estágio avançado.

Causas e fatores de risco

A HAP pode ser idiopática — quando não há causa identificável — ou estar associada a doenças autoimunes, cardiopatias congênitas e ao uso prolongado de certos anorexígenos (medicamentos para emagrecimento)⁴. Embora o motivo exato do predomínio feminino ainda não esteja totalmente esclarecido, fatores hormonais e genéticos parecem influenciar a doença.

A HAP nas mulheres

Entre as mulheres, a prevalência é de duas a quatro vezes maior do que entre os homens⁴. Durante a gestação, o risco aumenta consideravelmente: a **mortalidade materna pode chegar a 56% e a neonatal a 13%**⁵. Pesquisas internacionais mostram que cerca de 80% das mulheres com HAP relatam sintomas depressivos ou sobrecarga emocional ligados às limitações impostas pela doença⁶.

Impacto na qualidade de vida

Mesmo com o tratamento, as restrições físicas e emocionais tendem a persistir. Estudos realizados no Brasil e em outros países apontam que a HAP afeta aspectos físicos, sociais e psicológicos da vida, com impacto semelhante ao observado em doenças cardíacas graves⁶ ⁷. A reabilitação cardiopulmonar supervisionada tem mostrado bons resultados em resistência e capacidade funcional⁷, mas o sucesso depende da adesão ao tratamento e da identificação precoce da doença.

Tratamento e acompanhamento contínuo

O manejo deve ser feito por equipes multidisciplinares, envolvendo cardiologistas, pneumologistas, fisioterapeutas e psicólogos. O tratamento combina medicamentos específicos que dilatam os vasos pulmonares e melhoram o fluxo sanguíneo, além de programas de reabilitação e acompanhamento contínuo. Estar atento a sinais como falta de ar persistente, cansaço fora do comum e dor no peito sem causa aparente pode reduzir o tempo até o diagnóstico e aumentar as chances de uma vida mais estável e ativa.


Para Levar a Sério

A Hipertensão Arterial Pulmonar (HAP) é uma doença rara e progressiva que afeta as artérias que levam sangue do coração aos pulmões.

  • Os sintomas mais comuns são falta de ar, cansaço e dor no peito — sinais que muitas vezes passam despercebidos.
  • O diagnóstico pode demorar até dois anos, o que agrava a evolução da doença.
  • A HAP é duas a quatro vezes mais frequente em mulheres, especialmente em idade fértil.
  • Durante a gravidez, o risco é alto: a mortalidade materna pode chegar a 56%.
  • O tratamento exige acompanhamento multidisciplinar e pode incluir medicamentos específicos, reabilitação e apoio psicológico.
  • A identificação precoce dos sintomas e o acompanhamento com especialistas são fundamentais para melhorar a qualidade de vida.

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  1. Simonneau G, et al. Updated clinical classification of pulmonary hypertension. Eur Respir J. 2022;59(1):2101581. Disponível em: https://erj.ersjournals.com/content/59/1/2101581
  2. Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia (SBPT). Diretrizes de Hipertensão Pulmonar 2023. Disponível em: https://sbpt.org.br/portal/hp-2023/
  3. Orozco-Levi M, et al. Pathway to care, treatment and disease burden of pulmonary arterial hypertension: a real-world survey of physicians and patients in Latin America. BMJ Open. 2024;14(12):e093814. Disponível em: https://bmjopen.bmj.com/content/14/12/e093814
  4. Hoeper MM, et al. Epidemiology of pulmonary hypertension: updated data and insights. Eur Respir Rev. 2023;32(168):220207. Disponível em: https://err.ersjournals.com/content/32/168/220207
  5. Olsson KM, et al. Pregnancy in pulmonary arterial hypertension: a review of registry data and literature. Eur Respir J. 2020;55(5):1902421. Disponível em: https://erj.ersjournals.com/content/55/5/1902421
  6. Association of Pulmonary Hypertension Patients (APHP). Living with Pulmonary Arterial Hypertension: Patient Perspectives from Multinational Surveys. Pulm Circ. 2023;13(4):e12245. Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/2045894023112245
  7. Cícero C, et al. Efeitos do treinamento físico em pacientes com hipertensão arterial pulmonar. Faculdade de Medicina da USP, 2024. Disponível em: https://www.pgcardiologiausp.com.br/wp-content/uploads/2024/12/cristina_ccero.pdf

Equipe Saúde a Sério

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