AVC: saiba reconhecer os sinais e agir rápido

Reconhecer os sintomas e buscar atendimento imediato pode ser a diferença entre a vida e a morte.

Tempo de Leitura: 4 minutos

Durante um almoço de domingo, uma mulher conversa com amigos quando, de repente, um lado do rosto começa a pesar. Ela tenta sorrir, mas apenas metade da boca se move. O braço esquerdo não responde, e as palavras saem confusas. É um dos cenários mais típicos de um acidente vascular cerebral (AVC) — e cada segundo sem atendimento reduz as chances de recuperação completa.

O AVC ocorre quando o fluxo de sangue que leva oxigênio e nutrientes ao cérebro é interrompido. Isso pode acontecer por um bloqueio, quando um coágulo impede a passagem do sangue, caracterizando o AVC isquêmico, ou pelo rompimento de um vaso, que causa o AVC hemorrágico.
Segundo a World Stroke Organization — organização científica internacional dedicada ao estudo e prevenção da doença cerebrovascular — o tipo isquêmico representa cerca de 80% dos casos¹.

O Global Stroke Fact Sheet 2025, da mesma instituição, mostra que o AVC permanece entre as principais causas de morte e incapacidade no mundo, com aproximadamente 12 milhões de novos casos e mais de 6 milhões de mortes todos os anos¹.
No Brasil, a Sociedade Brasileira de AVC estima que ocorram cerca de 400 mil casos anuais, muitos deles resultando em algum grau de incapacidade permanente³.

Como reconhecer os sintomas de um AVC

Campanhas internacionais criaram formas simples de ajudar o público a identificar rapidamente um AVC. O método FAST — sigla em inglês para Face, Arms, Speech, Time (rosto, braços, fala e tempo) — orienta a observar se há assimetria facial, fraqueza em um dos braços e fala arrastada; diante de qualquer sinal, o tempo é decisivo⁵.

No Brasil, o conceito foi adaptado para materiais educativos do SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência – 192), que usam a mesma lógica de reconhecimento rápido dos sintomas.
Em linguagem simples: peça que a pessoa sorria; se o rosto entortar, é sinal de alerta. Peça que levante os dois braços; se um cair, pode haver fraqueza. Peça que fale ou cante algo curto; se a fala sair enrolada ou confusa, há suspeita de AVC⁵.
Em qualquer caso, ligue imediatamente para o SAMU (192) ou leve a pessoa ao serviço de emergência mais próximo⁶.

Outros sintomas de AVC incluem fraqueza súbita em um lado do corpo, perda de visão, confusão mental, tontura, convulsões ou dor de cabeça repentina e intensa sem causa aparente².
Em neurologia de emergência, o princípio é claro: “tempo é cérebro” — quanto mais rápido o atendimento, maiores as chances de recuperação⁷.

Tratamento do AVC: porque agir rápido

A agilidade no atendimento define o desfecho. Diretrizes da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS (CONITEC) recomendam que o tratamento com trombólise intravenosa — medicamento capaz de dissolver o coágulo e restabelecer o fluxo sanguíneo — seja iniciado idealmente dentro de 4,5 horas após o início dos sintomas⁷.

Em centros especializados, exames de imagem, como tomografia computadorizada e ressonância magnética com perfusão, permitem identificar o tecido cerebral ainda viável e ampliar a janela terapêutica para até 9 horas em casos selecionados⁹.
A tomografia de crânio é fundamental nas primeiras etapas do atendimento para diferenciar isquemia de hemorragia e guiar a conduta².

Prevenção e fatores de risco do AVC

A maioria dos casos de AVC está relacionada a fatores de risco modificáveis, como hipertensão arterial, diabetes, colesterol elevado, tabagismo, obesidade e sedentarismo¹⁰.
Controlar a pressão arterial, praticar atividade física e manter uma alimentação equilibrada — como a dieta mediterrânea ou a DASH — reduz de forma comprovada o risco de eventos cerebrovasculares¹⁰.

O relatório global da World Stroke Organization também alerta para a influência crescente de fatores ambientais, como poluição do ar e ondas de calor, especialmente em países de renda média.
Sem avanços significativos em prevenção, o custo global do AVC, hoje estimado em US$ 890 bilhões por ano, pode dobrar até 2050¹.

Reabilitação após o AVC: recuperar-se é possível

Mesmo com atendimento rápido, o AVC pode deixar sequelas motoras, cognitivas e de linguagem.
Estudos apontam que iniciar a reabilitação precoce — com fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional e acompanhamento neurológico — melhora significativamente a recuperação funcional e favorece o retorno à autonomia¹⁴.

Reconhecer os sinais, agir rápido e manter hábitos saudáveis são atitudes simples que salvam vidas e preservam cérebros.

Para Levar a Sério

  • O AVC é uma emergência médica: cada minuto conta.
  • Rosto torto, fraqueza em um braço e fala arrastada são sinais de alerta.
  • Acione o SAMU (192) ou procure atendimento de emergência.
  • Pressão alta, diabetes e tabagismo estão entre os principais fatores de risco.
  • Reabilitação precoce reduz sequelas e melhora a qualidade de vida.

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  1. Feigin VL, Norrving B, Lindsay MP, et al. World Stroke Organization Global Stroke Fact Sheet 2025. Int J Stroke. 2025;20(2):132–144. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC11786524/ — Acesso em: 27 out 2025.
  2. Ministério da Saúde. AVC — Saúde de A a Z. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/a/avc — Acesso em: 27 out 2025.
  3. Sociedade Brasileira de AVC. Números do AVC no Brasil. Disponível em: https://avc.org.br/numeros-do-avc/ — Acesso em: 27 out 2025.
  4. Hogge C, Lassetter J, Christensen K, et al. Mnemonic utilization in stroke education: FAST and BE-FAST. J Am Assoc Nurse Pract. 2024;36(8):404–412. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC10963602/ — Acesso em: 27 out 2025.
  5. Governo de Santa Catarina. SAMU 192 – sinais e sintomas de AVC (material educativo). Disponível em: https://samu.saude.sc.gov.br/ — Acesso em: 27 out 2025.
  6. CONITEC – Ministério da Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas do AVC Isquêmico Agudo. 2021. Disponível em: https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/consultas/relatorios/2021/20211230_relatorio_recomendacao_avci_agudo_cp110.pdf — Acesso em: 27 out 2025.
  7. Schellinger PD, Köhrmann M. 4.5-Hour Time Window for Intravenous Thrombolysis With r-tPA Is Established Firmly. Stroke. 2014;45(3):912–913. Disponível em: https://doi.org/10.1161/STROKEAHA.113.002700 — Acesso em: 27 out 2025.
  8. Ma H, Campbell BCV, Parsons MW, et al. Thrombolysis guided by perfusion imaging up to 9 hours after onset of stroke. N Engl J Med. 2019;380(19):1795–1803. Disponível em: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa1813046 — Acesso em: 27 out 2025.
  9. Boehme AK, Esenwa C, Elkind MSV. Stroke Risk Factors, Genetics, and Prevention. Circ Res. 2017;120(3):472–495. Disponível em: https://www.ahajournals.org/doi/10.1161/CIRCRESAHA.116.308398 — Acesso em: 27 out 2025.
  10. StatPearls. Stroke Prevention. Atualizado em 2023. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK470234/ — Acesso em: 27 out 2025.
  11. Wang X, Dong Y, Huang R, et al. Incident Stroke and Its Influencing Factors in Patients With Type 2 Diabetes Mellitus and/or Hypertension. Front Cardiovasc Med. 2022;9:770025. Disponível em: https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fcvm.2022.770025/full — Acesso em: 27 out 2025.
  12. Odigwe CO, Odigwe AC. Stroke in Patients With Diabetes and Hypertension. J Clin Hypertens (Greenwich). 2011;13(4):244–250. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/j.1751-7176.2010.00401.x — Acesso em: 27 out 2025.
  13. Ministério da Saúde. Diretrizes de atenção à reabilitação da pessoa com AVC. Biblioteca Virtual em Saúde. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/diretrizes_atencao_reabilitacao_acidente_vascular_cerebral.pdf — Acesso em: 27 out 2025.
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Deborah Lima

Jornalista do Saúde a Sério

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