
Receber o diagnóstico de câncer de próstata costuma vir acompanhado de um turbilhão de perguntas. Como será o tratamento? Vou conseguir manter minha qualidade de vida? Quais são minhas chances? A boa notícia é que a medicina nunca teve tantas respostas positivas para oferecer. Nos últimos anos, os avanços científicos têm transformado não apenas os índices de cura, que podem chegar a 98% quando a doença é detectada cedo, segundo a **Sociedade Brasileira de Urologia (SBU)**¹, mas também a forma como os pacientes atravessam o tratamento.
No Brasil, mais de 71 mil homens são diagnosticados com câncer de próstata a cada ano, de acordo com o **Instituto Nacional de Câncer (INCA)**². É o tipo de câncer mais comum entre os homens, atrás apenas do câncer de pele não melanoma. Embora frequente, é uma doença de comportamento variado: alguns tumores crescem lentamente e podem ser apenas observados, enquanto outros evoluem de forma agressiva e exigem tratamento imediato.
A próstata é uma glândula do sistema reprodutor masculino, localizada abaixo da bexiga e à frente do reto. Tem o tamanho aproximado de uma noz e produz parte do fluido seminal, que nutre e protege os espermatozoides³. O câncer de próstata ocorre quando algumas células dessa glândula se multiplicam de maneira desordenada, formando um tumor.
Embora o câncer de próstata tenda a evoluir lentamente em muitos casos, ele pode se tornar mais grave quando deixa de estar restrito à glândula. Ao se disseminar para outros órgãos — processo conhecido como metástase —, o tumor passa a interferir em funções vitais e a comprometer gradualmente o equilíbrio do organismo⁴. As células malignas podem atingir especialmente os ossos, onde alteram o processo natural de renovação do tecido, favorecendo dor, inflamações e fraturas⁵. Quando há invasão de estruturas próximas, como bexiga e ureteres, o fluxo urinário pode ser obstruído, levando a infecções e sobrecarga renal. Nessa fase, o câncer deixa de ser uma doença localizada e afeta sistemas essenciais, fragilizando o corpo de modo cumulativo⁶.
Diagnóstico: da triagem à precisão das imagens
O rastreamento do câncer de próstata ainda gera debate entre especialistas, mas há consenso sobre a necessidade de uma decisão individualizada, considerando idade, histórico familiar e fatores de risco. O exame de sangue que mede o PSA (antígeno prostático específico) é o principal instrumento de triagem⁷. Ele ajuda a identificar alterações na glândula, embora níveis elevados não indiquem necessariamente a presença de câncer — inflamações e crescimento benigno também podem alterar o resultado.
Outro método de avaliação é o toque retal, um exame rápido que permite ao médico perceber possíveis irregularidades na próstata⁸. Quando há suspeita, o diagnóstico é confirmado por biópsia, que analisa amostras do tecido prostático ao microscópio⁹.
Nos últimos anos, a precisão desses exames aumentou consideravelmente. A ressonância magnética multiparamétrica da próstata, hoje recomendada antes da primeira biópsia pelas diretrizes da Associação Europeia de Urologia (EAU)¹⁰, ajuda a identificar áreas suspeitas e reduzir procedimentos desnecessários. Já o PET-CT com PSMA — exame que usa uma molécula radioativa capaz de se ligar às células tumorais — fornece imagens mais detalhadas e sensíveis, tornando-se uma das principais ferramentas para definir o estágio da doença¹¹.
Tratamentos: entre observar e intervir
Nem todos os tumores exigem tratamento imediato. Em casos de baixo risco, pode-se optar pela vigilância ativa — acompanhamento regular com exames de PSA, imagem e biópsias de controle¹². Essa conduta, recomendada pelas principais sociedades médicas internacionais, é indicada quando o tumor cresce lentamente e não representa ameaça imediata à saúde, evitando os efeitos colaterais de cirurgias ou radioterapias desnecessárias.
Quando há indicação de intervir, as principais opções são a cirurgia (prostatectomia radical), a radioterapia externa e a braquiterapia, que insere pequenas fontes radioativas diretamente na próstata¹³.
Nos casos mais avançados, o tratamento inclui terapias hormonais, que reduzem ou bloqueiam os efeitos da testosterona — hormônio que estimula o crescimento das células prostáticas¹⁴. Pesquisas internacionais recentes mostram que novas terapias hormonais e radiofármacos ampliaram as possibilidades de controle da doença em estágios metastáticos, retardando a progressão e prolongando a sobrevida¹⁵.
O que há de novo na ciência
A pesquisa avança em três frentes: imagem, terapia e personalização. O uso de radiofármacos, que unem uma molécula radioativa a um composto capaz de reconhecer células tumorais, aparece como uma das inovações mais promissoras no tratamento de pacientes com câncer avançado¹⁵.
Outra área em rápida evolução é a da inteligência artificial aplicada à imagem, que ajuda a interpretar exames de ressonância magnética e a identificar tumores clinicamente relevantes com maior precisão¹⁶.
Esses avanços estão incorporados às diretrizes de grandes sociedades científicas, como a EAU e a American Urological Association (AUA)¹⁰, que recomendam exames mais sensíveis e abordagens combinadas em estágios avançados. O resultado é uma prática cada vez mais personalizada, com maior controle da doença e menor impacto na qualidade de vida.
O desafio agora é ampliar o acesso a essas tecnologias e fortalecer o diagnóstico precoce. O câncer de próstata é hoje uma condição com múltiplas possibilidades de tratamento — e o tempo continua sendo o fator decisivo. Procurar um urologista regularmente e realizar exames preventivos são passos essenciais para detectar a doença a tempo e aumentar as chances de cura.
- Sociedade Brasileira de Urologia. Câncer de próstata – prevenção e diagnóstico precoce.
- Instituto Nacional de Câncer (INCA). Estimativa 2025 – Incidência de câncer no Brasil.
- National Cancer Institute. Prostate gland – definition.
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