
A saúde vascular entrou de vez na pauta do cotidiano, mas não exatamente pelas razões ideais. Nos consultórios, o que antes era mais comum em pessoas mais velhas agora aparece em jovens, adultos sobrecarregados e gente que tenta interpretar sintomas a partir de vídeos curtos e conselhos aleatórios da internet. Em meio a esse barulho informativo, o Saúde a Sério conversou com o Dr. Vinícius Bertoldi, diretor da Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular – Regional São Paulo (SBACV-SP), para entender o que está mudando.
O especialista lembra que as duas áreas têm fronteiras amplas. “São especialidades dedicadas ao diagnóstico, prevenção e tratamento das doenças que acometem veias, artérias e vasos linfáticos, com exceção daquelas situadas no coração e dentro da cabeça”, explica. Isso inclui desde orientações clínicas até procedimentos minimamente invasivos e cirurgias complexas — um campo que abrange varizes, insuficiência venosa, trombose venosa profunda, linfedema, úlceras venosas, doença arterial periférica, aneurismas, malformações vasculares e, cada vez mais, o lipedema.
A formação no Brasil ajuda a esclarecer outra dúvida recorrente. “O cirurgião vascular também é treinado em Angiologia”, afirma. Na prática, a maior parte dos especialistas atua tanto no manejo clínico quanto em procedimentos cirúrgicos e endovasculares. O angiologista, por outro lado, concentra-se no cuidado clínico das doenças vasculares.
As queixas que chegam ao consultório refletem bem o ritmo atual. “Dor e peso nas pernas, inchaço, veias dilatadas, vasinhos, sensação de cansaço, cãibras, queimação e suspeita de trombose”, lista. Varizes continuam liderando a procura, mas o crescimento de casos de trombose e insuficiência venosa avançada tem chamado atenção — tendência diretamente ligada ao estilo de vida moderno, cada vez mais sedentário.
A mudança no perfil dos pacientes é um ponto central. “Há aumento de pacientes jovens com sintomas venosos”, observa. Sedentarismo, longos períodos sentados, sobrepeso e uso de hormônios ajudam a explicar esse deslocamento. Ele acrescenta que alimentação ultraprocessada, sono irregular e excesso de horas sentado criam um cenário propício à inflamação e ao prejuízo do retorno venoso. Há ainda um retrocesso importante: “O tabagismo, principalmente os cigarros eletrônicos, reverteu uma tendência de diminuição do hábito a partir de 2024”.
Comportamentos de risco se somam à desinformação, que o médico considera um dos desafios mais graves da atualidade. “A medicina no passado lidava com curiosos, curandeiros e charlatões. Hoje, esse grupo se denomina influenciadores”, afirma. Mitos circulam com força nas redes, e o impacto é real. Ele lista alguns dos mais frequentes: meias de compressão fazem mal, cruzar as pernas causa varizes, varizes são apenas estéticas, chás e receitas caseiras “curam” trombose. Nada disso se sustenta.
“Varizes são manifestação de uma doença venosa crônica”, destaca. Elas podem evoluir para dor, edema, inflamação, alterações da pele e úlceras. Também não procede a ideia de que meias de compressão fazem mal — quando bem indicadas, são seguras e eficazes. A única contraindicação importante é a presença de doença arterial grave sem avaliação especializada, além de algumas doenças de pele em atividade. E sobre cruzar as pernas, ele é direto: “Não causa varizes”.
Receitas caseiras também não resistem à análise científica. “Não há evidência que respalde tratamentos caseiros para varizes, trombose ou outras doenças vasculares”, afirma. O risco vai além da ineficácia: atrasam diagnósticos e favorecem complicações.
A velocidade das redes transforma tudo isso em um terreno ainda mais delicado. “O fluxo rápido de informações facilita a disseminação de mitos e simplificações perigosas”, diz. O problema atinge desde a minimização indevida de sintomas até abordagens sensacionalistas — extremos que, segundo ele, são igualmente prejudiciais. Não por acaso, muitos casos de trombose chegam ao consultório em estágio avançado.
Apesar do ambiente turbulento, os avanços tecnológicos têm ampliado as possibilidades de diagnóstico e tratamento. Ele cita o salto recente da Cirurgia Endovascular, o aperfeiçoamento do laser para varizes e novos medicamentos que facilitam o manejo de tromboses e doenças arteriais. Mesmo assim, reforça que o essencial permanece: “O exame clínico ainda é o melhor método para iniciar um diagnóstico”. Quando necessário, o ultrassom Doppler é o principal exame de rastreamento, especialmente em pessoas com fatores de risco ou histórico familiar.
Os sinais que exigem atenção imediata incluem “inchaço repentino, dor intensa nas pernas, veia endurecida, alteração de cor da pele, feridas de difícil cicatrização, dor ao caminhar e falta de ar após dor na perna”. Entre as medidas preventivas, destaca atividade física regular, alimentação equilibrada, hidratação adequada, controle de peso, abandono do tabagismo, evitar longos períodos sentado e uso de meias de compressão quando indicado.
A mensagem final do especialista é direta: “Doenças vasculares são tratáveis, e quanto mais cedo identificadas, melhores os resultados”. Ele reforça a importância de conferir formação e trajetória do médico — inclusive CRM e RQE — e lembra que outros profissionais de saúde têm papel essencial ao reconhecer sinais precoces e encaminhar corretamente.
Para Levar a Sério
• A vida moderna está antecipando sintomas vasculares em pacientes cada vez mais jovens.
• Mitos persistentes seguem causando atrasos perigosos no diagnóstico.
• Meias de compressão são seguras quando bem indicadas; cruzar as pernas não causa varizes.
• Receitas caseiras não tratam doenças vasculares e podem piorar o quadro.
• Informação qualificada e avaliação especializada são pilares do cuidado vascular.
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