Arboviroses e viroses em alta: o desafio invisível que lota hospitais no Brasil

Crescimento das infecções virais expõe falhas no diagnóstico e pressiona o sistema de saúde em todo o país

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Casos de arboviroses e viroses respiratórias no Brasil aumentam a cada ano e representam um desafio crescente nos atendimentos hospitalares. De acordo com o Ministério da Saúde, só em 2025, mais de 1 milhão de casos prováveis de dengue, a arbovirose mais comum no país, foram notificados, e mais de 680 mortes pela doença já foram confirmadas.

No campo das viroses respiratórias, doenças como COVID-19 e Influenza A continuam com forte presença. Segundo o boletim Infogripe mais recente da Fiocruz, nas últimas quatro semanas epidemiológicas, 30,1% dos casos positivos foram de Influenza A. A doença também superou a COVID como a principal causa de morte por síndrome respiratória aguda grave entre os idosos.

Apesar da incidência em larga escala, arboviroses e viroses se espalham de formas distintas, o que reforça a importância da atenção aos detalhes durante as rotinas no dia a dia. As arboviroses são doenças causadas por vírus transmitidos por vetores, principalmente mosquitos como o Aedes aegypti. Já as viroses respiratórias são transmitidas diretamente entre pessoas ou por contato com superfícies contaminadas, favorecendo surtos rápidos em ambientes fechados.

Desafios no diagnóstico

A semelhança dos sintomas é um dos principais obstáculos para o diagnóstico correto. Por isso, alguns dos desafios do sistema de saúde pública no Brasil têm sido investir em pesquisas para o desenvolvimento de vacinas e tratamentos, além de ampliar os insumos disponíveis para testes e análises laboratoriais.

O diagnóstico clínico é um ponto sensível, já que ambas as condições podem se manifestar com febre, dor no corpo, mal-estar, náuseas e cefaleia. A avaliação deve considerar o histórico epidemiológico e, sempre que possível, incluir exames laboratoriais para confirmação.

A circulação simultânea de vírus distintos, como dengue, zika e chikungunya, ou Influenza e COVID-19, agrava o cenário. Quando o paciente apresenta sintomas genéricos em um ambiente onde vários vírus coexistem, o diagnóstico se torna mais complexo e o início do tratamento adequado pode atrasar, impactando diretamente a recuperação e o controle da transmissão.

Riscos da automedicação

A automedicação também preocupa. O uso frequente de antitérmicos e anti-inflamatórios sem prescrição pode mascarar sinais importantes ou agravar quadros como o da dengue hemorrágica.

Ao menor sinal de febre alta, dor muscular intensa ou dificuldade respiratória, é fundamental buscar atendimento médico, especialmente entre crianças, idosos e gestantes.

Importância da investigação precoce

O diagnóstico depende da combinação entre dados clínicos, epidemiológicos e laboratoriais. Testes sorológicos e de biologia molecular são importantes para a identificação do agente viral. No caso da dengue, o teste NS1 — que identifica um antígeno circulante nos primeiros dias da infecção — pode ser solicitado logo no início do quadro. Para Influenza ou COVID-19, exames de antígeno ou RT-PCR — teste molecular capaz de detectar o material genético do vírus — são indicados e devem ser realizados entre o início dos sintomas e o oitavo dia de quadro respiratório.

Quanto mais precoce for a investigação diagnóstica, maior a chance de evitar complicações e reduzir a transmissão comunitária. A identificação correta orienta as medidas de suporte, evita o uso desnecessário de antibióticos e fortalece os sistemas de vigilância epidemiológica.

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Dra Jéssica Ramos

Médica formada pela UNICAMP. Integra o Núcleo de Infectologia do Hospital Sírio-Libanês e participa de comitês da SBTMO, ABHH e SBI.

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