
Os medicamentos psiquiátricos fazem parte de tratamentos amplamente utilizados no Brasil e têm papel importante no controle de transtornos mentais, ajudando a reduzir sintomas e estabilizar o quadro ao longo do tempo. Conhecer seus efeitos adversos não significa gerar medo, mas permitir que o paciente saiba o que pode acontecer, como monitorar sinais e quando conversar com o médico para ajustar o tratamento, caso necessário.
Estudos que acompanham pessoas em uso dessas medicações mostram que é comum surgirem efeitos como sonolência, indisposição gastrointestinal, ganho de peso leve, alterações no sono ou mudanças no apetite¹. Parte desses sintomas desaparece com o tempo; outros podem ser manejados com ajustes na dose ou troca de medicação. Sociedades médicas, como a Associação Psiquiátrica Americana, recomendam que médico e paciente conversem sobre riscos e benefícios durante todo o tratamento¹.
Antipsicóticos: alterações metabólicas e efeitos motores
Os antipsicóticos, usados em condições como esquizofrenia, transtorno bipolar e episódios psicóticos, podem apresentar efeitos diferentes dependendo da medicação. Os de segunda geração, disponíveis no Brasil, como olanzapina, quetiapina e clozapina, podem causar ganho de peso, aumento da glicose no sangue e alterações no colesterol². Por isso, exames de rotina costumam incluir checagem de glicemia e perfil lipídico.
Os antipsicóticos mais antigos, como o haloperidol, têm maior probabilidade de causar efeitos motores, como rigidez muscular, tremores e acatisia, uma sensação de inquietação física³. Esses sintomas tendem a melhorar com ajustes da dose.
O uso prolongado pode levar à discinesia tardia, caracterizada por movimentos involuntários repetitivos³. É um efeito conhecido, monitorado e, muitas vezes, reversível quando identificado precocemente. Alguns antipsicóticos podem ainda aumentar o hormônio prolactina, causando alterações menstruais ou produção de leite fora do período gestacional⁴.
Antidepressivos: adaptação inicial e efeitos frequentes
Os antidepressivos, especialmente os inibidores seletivos de recaptação de serotonina (como fluoxetina, sertralina e escitalopram), são seguros e amplamente prescritos no Brasil. Nas primeiras semanas, podem causar náusea, alteração do sono, leve agitação ou mudanças intestinais, que costumam melhorar com o tempo⁵.
A disfunção sexual — redução do desejo, dificuldade de orgasmo ou disfunção erétil — aparece com frequência em tratamentos prolongados⁶. Há alternativas terapêuticas, e a avaliação individual orienta se ajustes são necessários.
O ganho de peso pode ocorrer conforme o tempo de tratamento, dependendo da medicação e da resposta individual⁷. Mecanismos propostos envolvem mudanças no apetite e na regulação serotoninérgica do metabolismo.
Estabilizadores de humor: eficácia consolidada e necessidade de exames regulares
Entre os estabilizadores de humor disponíveis no Brasil, o lítio continua sendo uma das opções mais eficientes na prevenção de recaídas do transtorno bipolar. Seu uso prolongado exige exames periódicos, porque pode afetar a tireoide e, com menor frequência, a função renal⁸. Mulheres apresentam risco maior de desenvolver hipotireoidismo induzido pelo lítio ao longo dos anos de tratamento⁹.
O valproato (ácido valpróico), também disponível no país, pode causar ganho de peso, tremores, náuseas e alterações temporárias nas enzimas do fígado⁸. Ele não deve ser utilizado durante a gestação devido ao risco de malformações e alterações no neurodesenvolvimento¹⁰ — por isso, protocolos específicos orientam o uso em mulheres em idade fértil.
Benzodiazepínicos: ação rápida e riscos do uso contínuo
Os benzodiazepínicos, como diazepam, clonazepam e alprazolam, são amplamente utilizados no Brasil para ansiedade intensa e insônia. Embora eficazes na fase aguda, o uso prolongado pode levar à dependência, além de afetar a atenção, a memória e aumentar o risco de quedas¹¹. A interrupção deve ser gradual para evitar sintomas de abstinção, como irritabilidade, insônia e tremores¹².
Paranoia não é efeito adverso de medicamentos psiquiátricos
Pesquisas clínicas e revisões sistemáticas não descrevem paranoia, delírios ou alucinações como efeitos adversos de antidepressivos, estabilizadores de humor ou benzodiazepínicos¹³. Esses sintomas estão ligados a outras condições psiquiátricas ou clínicas.
A síndrome serotoninérgica, uma reação rara relacionada ao uso combinado de vários medicamentos que aumentam a serotonina, causa agitação intensa, tremores, rigidez muscular e febre alta¹³. Não envolve paranoia.
A intoxicação por lítio, quando há excesso do medicamento no sangue, causa confusão, desorientação e tremores intensos, mas também não provoca delírios persecutórios⁹.
Monitoramento clínico: parte essencial do tratamento seguro
O acompanhamento regular melhora a segurança do tratamento ao permitir a identificação precoce de alterações. Sociedades médicas recomendam avaliações periódicas que podem incluir peso, glicemia, colesterol, função tireoidiana, função renal e, quando necessário, níveis da medicação no sangue¹⁴. Esse cuidado orienta ajustes mais precisos e adequados ao perfil de cada pessoa.
Por que compreender esses efeitos importa
Estudos mostram que pessoas com transtornos psicóticos que permanecem sem tratamento adequado apresentam desfechos piores ao longo do tempo¹⁵. Algumas medicações, quando usadas corretamente, favorecem maior estabilidade clínica e diminuem riscos relacionados ao transtorno, como recaídas¹⁵.
Com informação clara e acompanhamento especializado, os medicamentos psiquiátricos podem ser utilizados de forma segura e eficaz, contribuindo para qualidade de vida e continuidade do cuidado.
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