Câncer de próstata: ciência e informação para o cuidado de um dos tumores mais incidentes no país

A ciência já mostrou o caminho. O que falta é fazer com que ele seja percorrido por todos

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Patient consulting a doctor at the hospital

O câncer de próstata continua sendo um divisor de águas na saúde do homem brasileiro. Enquanto a ciência avança em velocidade inédita, oferecendo diagnósticos mais precisos e tratamentos cada vez mais eficazes, o país ainda convive com números que revelam uma realidade dura. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), o Brasil registra cerca de 72 mil novos casos da doença anualmente, e mais de 17 mil homens morrem todos os anos.

Estamos diante de uma contradição que precisa ser exposta. De um lado, uma das áreas da oncologia que mais evoluiu nas últimas décadas, capaz de mudar destinos e ampliar expectativas de vida. De outro, um sistema que ainda falha em garantir o melhor cuidado e evitar casos avançados e óbitos. A ciência já mostrou o caminho. O que falta é fazer com que ele seja percorrido por todos. E isso passa, inevitavelmente, por educação em saúde, rastreamento responsável e políticas públicas que reduzam desigualdades e garantam diagnóstico em tempo oportuno e acesso aos tratamentos.

A ciência nos avanços contra o câncer de próstata

Entre as novidades mais promissoras estão os radiofármacos, medicamentos que levam partículas radioativas diretamente às células tumorais. Eles se ligam ao tumor, impedem seu crescimento e podem destruir células malignas de forma seletiva. O radiofármaco mais utilizado hoje é o lutécio Lu 177 vipivotida tetraxetana, já disponível na saúde privada e aplicado em pacientes que não respondem mais a outros tipos de tratamento. Os resultados são animadores. E o mais interessante é que estudos apresentados no Congresso Europeu de Oncologia, realizado há algumas semanas em Berlim, mostram benefícios ainda maiores quando essas medicações são oferecidas em fases mais precoces da doença.

Outro avanço importante vem dos medicamentos que interferem nos mecanismos que estimulam o crescimento tumoral. Um estudo internacional envolvendo mais de mil pacientes indicou que o medicamento capivacertibe, associado à terapia hormonal, reduziu em quase 20% o risco de progressão da doença em pessoas com uma alteração específica em uma proteína tumoral. Trata-se de um passo significativo, que abre novas possibilidades para personalizar o tratamento e interromper mais cedo o avanço do câncer.

A imunoterapia e novas drogas hormonais também fazem parte desse crescente arsenal terapêutico, ampliando o chamado as opções para a doença avançada. Há, portanto, motivos para otimismo. A ciência está produzindo resultados concretos e entregando ferramentas que mudam vidas.

Os desafios do cuidado

Mas há, também, um ponto essencial neste debate: não queremos que os pacientes precisem chegar aos estágios mais complexos para receber essas terapias. O ideal é que a doença seja diagnosticada cedo e tratada no tempo certo. E, nesse ponto, o Brasil ainda enfrenta desafios significativos.

Estudos recentes baseados em grandes bancos de dados nacionais evidenciam um abismo entre quem depende exclusivamente do SUS e quem conta com a saúde suplementar. No sistema público, muitos homens não conseguem iniciar o tratamento curativo no tempo certo e acabam recebendo terapias paliativas quando ainda haveria chance real de cura. Na doença avançada, essa desigualdade se repete: faltam medicamentos modernos que poderiam prolongar a vida e oferecer mais conforto, criando um cenário em que o desfecho do paciente muitas vezes depende do tipo de acesso que ele tem, e não apenas da gravidade do tumor.

Esses números revelam que não basta celebrar os avanços científicos. É preciso garantir que eles estejam disponíveis para todos, independentemente do CEP ou da condição financeira. Isso inclui desde o acesso a exames e diagnóstico oportuno até a oferta de cirurgias, radioterapia e medicações inovadoras no tempo recomendado.

O Brasil tem competência científica, médicos altamente qualificados e participação ativa em estudos internacionais. O que falta é transformar conhecimento em política pública, acelerar processos regulatórios, ampliar financiamento e criar caminhos reais para que o que existe de inovador chegue também ao sistema público.

Homens que conhecem seus riscos procuram atendimento mais cedo. Profissionais mais bem formados identificam sinais antes da doença avançar. Sistemas de saúde orientados pela ciência conseguem salvar mais vidas.

Educação em saúde, comunicação clara e diálogo constante entre médicos, pacientes e gestores são ferramentas capazes de redefinir o futuro. Se queremos reduzir diagnósticos tardios, ampliar o acesso ao tratamento adequado e evitar milhares de mortes, precisamos fortalecer a cultura do cuidado. 

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Fernando Maluf

Médico oncologista e fundador do Instituto Vencer o Câncer

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