A ocorrência de cólica renal durante a gestação é uma condição desafiadora, devido às particularidades fisiológicas e à necessidade de proteger a saúde materno-fetal. O tratamento deve ser cuidadosamente planejado, considerando a segurança do feto e o alívio dos sintomas maternos.
Na maioria dos casos, a abordagem inicial é conservadora. O simples diagnóstico de nefrolitíase “pedra nos rins” sem nenhum sintoma na mulher gestante não requer medidas específicas, na maioria dos casos. Já a cólica renal e as complicações da nefrolitíase durante a gestação são menos comuns, ocorrendo em 1 a cada 224 a 2.000 gestações. Quando existem sintomas relacionados à litíase urinária, há particularidades relacionadas ao quadro clínico, diagnóstico e tratamento.
A hidratação adequada é essencial pois ajuda a aumentar o fluxo urinário, o que pode favorecer a eliminação espontânea do cálculo. O controle da dor também é uma prioridade e geralmente é feito com analgésicos seguros para gestantes, como paracetamol. Anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) devem ser evitados, especialmente no terceiro trimestre, devido ao risco de fechamento prematuro do ducto arterioso fetal. A observação clínica é recomendada quando o cálculo é pequeno, o quadro estável e não há sinais de infecção ou obstrução significativa. Estudos sugerem que até 70-80% dos cálculos podem ser eliminados espontaneamente durante a gestação.
Intervenções em Casos Mais Graves
Quando o manejo conservador não é eficaz ou em casos mais graves, como obstrução persistente ou infecções associadas, intervenções podem ser necessárias. Os procedimentos mais utilizados incluem:
- Colocação de cateter duplo J: Um método minimamente invasivo para desobstruir o trato urinário e aliviar os sintomas.
- Ureteroscopia: Procedimento utilizado para remoção de cálculos localizados no ureter, em geral com o uso de laser para fragmentar o cálculo.
- Nefrostomia percutânea: Um tubo é inserido diretamente no rim para drenar a urina, sendo uma opção segura, porém em poucas situações é necessária.
É importante ressaltar que os procedimentos invasivos são indicados apenas quando absolutamente necessários, dada a maior complexidade da gestação.
O diagnóstico seguro é fundamental para guiar o tratamento. A ultrassonografia é o exame de escolha, pois não utiliza radiação ionizante. Nos casos em que o diagnóstico por imagem não é conclusivo, exames complementares como ressonância magnética e mesmo tomografia de abdome podem ser considerados.
O tratamento da litíase urinária em gestantes exige uma abordagem multidisciplinar, envolvendo urologistas e obstetras. O manejo adequado deve equilibrar os riscos e benefícios para garantir o bem-estar da mãe e do feto. Felizmente, com a evolução das técnicas de anestesia e de cirurgia, quando as intervenções são necessárias podem ser realizadas com segurança na grande maioria dos casos.
Matéria originalmente publicada no site da Revista Obstetrícia para Elas