
Rouquidão persistente, sensação de “bolo na garganta” ou um pequeno caroço na frente do pescoço são sintomas que podem ter várias causas, mas merecem avaliação médica. Esses sinais estão entre os principais indícios de alterações na glândula tireoide, responsável por produzir hormônios que controlam o metabolismo e o funcionamento de diversos órgãos¹. Em alguns casos, essas alterações podem estar relacionadas ao desenvolvimento de câncer de tireoide.
Um tipo de câncer comum, mas de bom prognóstico
O câncer de tireoide é o tumor endócrino mais frequente e acomete principalmente mulheres, segundo o *Instituto Nacional de Câncer (INCA)*². No Brasil, são estimados cerca de 13,7 mil novos casos por ano entre 2023 e 2025². Apesar de ser relativamente comum, a doença tem comportamento predominantemente indolente — ou seja, cresce devagar — e apresenta altas taxas de cura quando tratada adequadamente.
O aumento no número de diagnósticos nas últimas décadas não significa que o câncer esteja mais frequente, mas reflete a ampliação do uso de exames de imagem, como o ultrassom de pescoço, que hoje detecta nódulos cada vez menores². Muitos deles jamais causariam sintomas ou riscos à vida, fenômeno conhecido como sobrediagnóstico.
Para evitar tratamentos desnecessários, o INCA e entidades médicas internacionais orientam que o rastreamento populacional da tireoide não seja feito em pessoas sem sintomas. A medida busca evitar exames e cirurgias desnecessárias, já que identificar nódulos que nunca trariam problemas pode gerar mais riscos do que benefícios². O foco deve estar em investigar quem apresenta sintomas ou fatores de risco.
Diagnóstico e fatores de risco
Entre os fatores de risco conhecidos estão o sexo feminino, histórico familiar da doença, exposição prévia à radiação na região do pescoço e algumas síndromes genéticas raras². Alterações hormonais e inflamatórias também podem interferir no funcionamento da glândula, motivo pelo qual o acompanhamento médico é essencial diante de qualquer suspeita.
O diagnóstico começa com avaliação clínica e ultrassonografia da tireoide, que analisa o tamanho e as características do nódulo. Quando há indícios de malignidade, o médico pode indicar a punção aspirativa por agulha fina (PAAF), exame simples que coleta células para análise laboratorial³. Essas etapas seguem o protocolo de conduta definido pela *Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (SBCCP)*³.
Vigilância ativa e cirurgia: decisões guiadas pelo risco
As diretrizes internacionais de 2025, publicadas no periódico Thyroid, reforçam que o tratamento deve ser definido de acordo com o perfil de risco do tumor¹. Casos classificados como baixo risco, pequenos e restritos à glândula, podem ser acompanhados com vigilância ativa — estratégia que consiste em monitorar o paciente com exames periódicos, sem necessidade imediata de cirurgia. Essa abordagem surgiu como resposta ao sobrediagnóstico e tem se mostrado eficaz e segura.
Um estudo publicado em 2025 no JAMA Surgery acompanhou mais de dois mil pacientes com tumores de até um centímetro e mostrou que apenas 7% apresentaram crescimento em 10 anos, sem impacto na sobrevida⁴. Os resultados confirmam que a vigilância ativa é uma opção segura quando há acompanhamento médico regular.
Nos casos em que o tumor é maior, invade tecidos próximos ou apresenta risco de disseminação, o tratamento indicado é a cirurgia, com retirada parcial ou total da glândula. Em algumas situações, pode ser necessário o uso de iodo radioativo para eliminar possíveis células remanescentes¹. Após a cirurgia, o paciente realiza reposição hormonal, com acompanhamento periódico do endocrinologista para manter o metabolismo equilibrado e evitar oscilações de energia e peso.
Avanços e novas abordagens
Nos últimos anos, os avanços científicos também trouxeram novas formas de tratar o câncer de tireoide, especialmente nos casos mais complexos. A chamada medicina de precisão busca identificar as características genéticas de cada tumor para orientar tratamentos mais personalizados e eficazes. Essas estratégias ainda estão em fase de ampliação no Brasil, disponíveis principalmente em centros de pesquisa e hospitais de referência, mas representam uma tendência crescente no cuidado oncológico.
Prognóstico e qualidade de vida
A boa notícia é que, na maioria dos casos, o câncer de tireoide tem excelente prognóstico. Conforme as diretrizes internacionais de 2025¹, as taxas de cura ultrapassam 90%, chegando a 98% de sobrevida em 10 anos nos tumores diferenciados — como o tipo papilífero, o mais comum. O segredo está no equilíbrio: diagnosticar cedo, tratar com precisão e evitar excessos.
O câncer de tireoide costuma evoluir lentamente e, quando acompanhado de forma individualizada, permite vida longa e saudável. O acompanhamento médico regular é essencial tanto para o diagnóstico quanto para o controle após o tratamento.
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Referências
- Ringel MD, et al. 2025 ATA Management Guidelines for Adult Patients with Differentiated Thyroid Cancer. Thyroid. 2025;35(8):841–985. DOI: 10.1089/thy.2025.0145.
- Instituto Nacional de Câncer (INCA). Estimativa 2023: Incidência de Câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2023.
- Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço (SBCCP). Manual de Condutas: Nódulos e Câncer de Tireoide. 2024.
- Sawka AM, et al. Long-Term Durability of Active Surveillance of Small, Low-Risk Papillary Thyroid Cancer. JAMA Surgery. 2025;160(3):233–242. DOI: 10.1001/jamasurg.2024.6551.