Fato ou Fake: 10 mitos e verdades sobre a pressão alta

Novo consenso brasileiro atualiza critérios de diagnóstico e tratamento e especialistas esclarecem dúvidas frequentes sobre hipertensão

A pressão alta, também chamada de hipertensão arterial, é uma das doenças crônicas mais comuns no Brasil. Afeta quase 28% dos adultos nas capitais brasileiras, segundo o VIGITEL 2023¹, e está diretamente ligada a complicações como infarto, derrame e insuficiência renal. Em 2025, a Sociedade Brasileira de Cardiologia, a Sociedade Brasileira de Hipertensão e a Sociedade Brasileira de Nefrologia publicaram a nova Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial (DBHA 2025)², que trouxe mudanças importantes no diagnóstico e no tratamento.

Além dessas novidades, muitos mitos ainda circulam sobre a pressão alta. Reunimos informações da nova diretriz brasileira, da diretriz europeia e de pesquisas científicas recentes para esclarecer as principais dúvidas sobre a hipertensão.


“Pressão 12 por 8 é sempre normal”

Fake.
O valor 12 por 8 continua sendo considerado normal. Mas a nova diretriz criou a categoria de pré-hipertensão para casos em que a pressão está entre 12 e 13,9 na máxima (sistólica) e/ou entre 8 e 8,9 na mínima (diastólica)². Isso não é hipertensão, mas já exige atenção e avaliação de riscos adicionais.


“Jovens não desenvolvem hipertensão”

Fake.
Embora seja mais comum em adultos, a hipertensão também atinge crianças e adolescentes. Estima-se que mais de 3,5 milhões de jovens brasileiros convivam com a doença. Estudos no Rio de Janeiro mostraram prevalência próxima de 20% em adolescentes⁴.


“Só medir no consultório já basta para diagnosticar pressão alta”

Fake.
O diagnóstico só é confirmado quando a pressão está em 14 por 9 ou mais, em pelo menos duas ocasiões diferentes². Além disso, medir apenas no consultório pode enganar. Exames como o MAPA (monitorização por 24 horas com aparelho portátil) e o MRPA (medições em casa em horários diferentes) ajudam a identificar situações como a hipertensão mascarada e a hipertensão do avental branco. Estudos confirmam que muitos pacientes apresentam hipertensão assintomática apenas fora do consultório⁵.


“Apenas reduzir o sal resolve o problema da pressão alta”

Fake.
Cortar o sal ajuda, mas não basta. O sódio também está presente em alimentos industrializados, como pães, embutidos e enlatados. Além disso, controlar a pressão envolve manter peso saudável, praticar atividade física, não fumar, reduzir o álcool e, em muitos casos, usar medicamentos⁶.


“Café aumenta a pressão em pessoas predispostas”

Fato.
O café pode elevar a pressão de forma temporária, principalmente em pessoas predispostas geneticamente. O consumo excessivo — mais de três xícaras por dia — aumenta o risco de hipertensão. Já o consumo moderado costuma ser seguro e até pode trazer benefícios, como mostrou estudo de coorte brasileiro⁷.


“Hipertensão não tem sintomas”

Fato (na maioria dos casos).
A pressão alta é conhecida como “assassina silenciosa”, porque geralmente não causa sintomas até provocar complicações graves. Muitas pessoas descobrem a doença em exames de rotina, sem qualquer queixa. Pesquisas mostram que crenças em “sintomas típicos” de hipertensão não são confiáveis, pois a maioria dos pacientes permanece assintomática⁸.


“Medicamentos para pressão causam impotência”

Fake.
Alguns remédios antigos podiam ter esse efeito colateral, mas os medicamentos modernos raramente causam disfunção sexual. Pelo contrário: ao melhorar a circulação, o tratamento adequado pode até ajudar na função sexual⁹.


“Álcool não afeta a pressão arterial”

Fake.
O consumo frequente de álcool está associado a maior risco de hipertensão. Uma meta-análise recente de estudos de coorte mostrou que a ingestão regular, mesmo em níveis moderados, eleva o risco cardiovascular¹⁰.


“Estresse pode causar hipertensão”

Fato.
O estresse libera hormônios como a adrenalina, que elevam temporariamente a pressão. Quando é constante, pode contribuir para a hipertensão, além de favorecer hábitos prejudiciais como má alimentação e sedentarismo².


“Pessoas magras não têm pressão alta”

Fake.
O excesso de peso aumenta o risco de hipertensão, mas não é o único fator. Pessoas magras também podem desenvolver pressão alta, especialmente quando há histórico familiar, diabetes ou alterações nos rins e vasos sanguíneos².


O que mudou nas metas e tratamentos em 2025

Segundo a DBHA 2025², a meta geral é manter a pressão abaixo de 13 por 8. Em idosos muito frágeis, valores um pouco mais altos podem ser aceitos para reduzir riscos de tonturas e quedas. A diretriz também recomenda iniciar o tratamento com a combinação de dois medicamentos em baixas doses, de preferência em um único comprimido, avançando para três se necessário. O objetivo é evitar a chamada inércia terapêutica, ou seja, a demora em ajustar o tratamento quando ele não funciona.

Já no cenário internacional, a European Society of Cardiology (ESC)³ passou a considerar como pressão elevada valores a partir de 12 por 8, recomendando metas mais rígidas. O Brasil não adotou esse corte, mas reconheceu a pré-hipertensão como categoria de risco e reforçou a necessidade de acompanhamento.


Fato ou Fake Saúde a Sério

Nesta editoria, o Saúde a Sério combate a desinformação em saúde com base em evidências científicas atualizadas. Quando o assunto é pressão alta, a mensagem é clara: identificar cedo, tratar corretamente e acompanhar de perto são as chaves para reduzir complicações e salvar vidas.


Referências

  1. Ministério da Saúde. VIGITEL Brasil 2023: Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico. Brasília: MS; 2024. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2024/abril/hipertensao-arterial-saude-alerta-para-a-importancia-da-prevencao-e-tratamento
  2. Brandão AA, Rodrigues CIS, Bortolotto LA, Armstrong AC, Mulinari RA, Feitosa ADM, et al. Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial – 2025. Arquivos Brasileiros de Cardiologia. 2025;122(9):e20250624. DOI: https://doi.org/10.36660/abc.20250624
  3. Williams B, Mancia G, Spiering W, Rosei EA, Azizi M, Burnier M, et al. 2024 ESC Guidelines for the management of arterial hypertension. European Heart Journal. 2024;45(32):2853–2938. DOI: https://doi.org/10.1093/eurheartj/ehae178
  4. Sociedade Brasileira de Hipertensão. Hipertensão em crianças e adolescentes. 2024.
  5. Souffront K, et al. Recognition of asymptomatic hypertension in an urban emergency department: where are we now? J Am Soc Hypertens. 2016;10(11):892–899. DOI: https://doi.org/10.1016/j.jash.2016.09.007
  6. He FJ, MacGregor GA. Salt, blood pressure and cardiovascular disease. Curr Opin Cardiol. 2007;22(4):298–305. DOI: https://doi.org/10.1097/HCO.0b013e32814f1d8c
  7. Miranda AM, Steluti J, Fisberg RM, Marchioni DM. Coffee consumption and risk of hypertension: a prospective analysis in the Brazilian Longitudinal Study of Adult Health. Clin Nutr. 2021;40(10):5222–5230. DOI: https://doi.org/10.1016/j.clnu.2021.08.019
  8. Granados-Gámez G, et al. A longitudinal study of symptoms beliefs in hypertension. PLoS One. 2015;10(11):e0142350. DOI: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0142350
  9. Doumas M, Tsakiris A, Douma S. Sexual dysfunction in essential hypertension: myth or reality? J Clin Hypertens. 2006;8(4):269–274. DOI: https://doi.org/10.1111/j.1524-6175.2006.05267.x
  10. Cecchini M, et al. Alcohol Intake and Risk of Hypertension: A Systematic Review and Meta-Analysis of Cohort Studies. Hypertension. 2024;81(5):1102–1113. DOI: https://doi.org/10.1161/HYPERTENSIONAHA.124.22703

Por Saúde a Sério

Combatendo a desinformação em saúde

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