Dentre as malformações congênitas mais comuns encontra-se a Cardiopatia Congênita (CC). Elas são as anomalias mais frequentemente associadas à morbimortalidade na infância, especialmente no período neonatal, e são a segunda principal causa de óbito após o nascimento. Sua incidência é estimada em 1 a cada 100 nascidos vivos. No Brasil, estima-se que a cada 20 minutos nasce um bebê cardiopata.
Em países que realizam diagnóstico e tratamento no momento ideal, 90% das crianças com CC chegam à vida adulta com qualidade de vida. Para que o diagnóstico precoce aconteça, faz-se necessário a implementação de exames que façam parte de um protocolo formalizado, como rotina obstétrica de pré-natal — e assim vem acontecendo de forma mais frequente no Brasil.
Durante o pré-natal, dois exames podem ser o ponto de partida: o ultrassom morfológico de 1º trimestre (12 a 14 semanas), que através da avaliação da translucência nucal, do osso nasal e do Doppler do ducto venoso pode identificar alterações que levantam suspeitas de malformações cardíacas congênitas; e o ultrassom morfológico de 2º trimestre (20 a 24 semanas), em que o médico analisa todos os órgãos, inclusive o coração. Neste exame poderá haver suspeita de CC e indicação de um exame específico: a Ecocardiografia Fetal.
A Ecocardiografia Fetal é um exame de ultrassom realizado através da parede abdominal da grávida e dirigido ao coração do feto em gestação. É seguro, indolor e não invasivo, realizado por um profissional especialista em Cardiologia Pediátrica e Fetal, permitindo avaliar o coração do bebê de forma detalhada enquanto ele ainda está se desenvolvendo.
É possível realizar a partir da 14ª semana de gestação, porém as melhores imagens são obtidas entre 24 e 28 semanas. Ele é muito importante porque auxilia na detecção de problemas cardíacos congênitos de maneira precoce, com avaliação minuciosa de toda estrutura cardíaca — cavidades, válvulas, vasos, funcionamento e ritmo cardíaco fetal.
Quando descobrimos que um bebê tem algum problema no coração, é possível planejar todos os cuidados antes mesmo do nascimento. Em alguns casos específicos, pode-se realizar intervenção ainda no período fetal. A gestante deve ser encaminhada para hospital de referência, com UTI neonatal e equipe especializada, garantindo assistência imediata ao nascer.
Em junho de 2023, a Ecocardiografia Fetal foi incluída por lei como exame de rotina às gestantes durante o pré-natal — um marco na saúde pública, promovendo o bem-estar das gestantes e de seus bebês. Entretanto, ainda não há cobertura universal. As indicações formais incluem:
- Doenças maternas (Diabetes, Lúpus)
- Infecções (como rubéola)
- Uso de medicamentos ou substâncias nocivas
- Gestações gemelares ou por FIV
- História familiar de cardiopatias congênitas
- Suspeitas nos exames de ultrassom
- Ritmo cardíaco fetal irregular
- Crescimento fetal inadequado
Com os avanços tecnológicos, a Ecocardiografia Fetal tornou-se ainda mais precisa e eficaz. O treinamento contínuo dos profissionais também é essencial para garantir diagnósticos confiáveis que impactam positivamente a vida do bebê e da família.
Matéria originalmente publicada no site da Revista Obstetrícia para Elas