A incontinência é definida como qualquer perda involuntária de urina. Durante a gestação é muito comum essa perda, sendo mais acentuada entre o segundo e terceiro trimestre.
Apesar de muito comum entre as pacientes do pré-natal, não devemos considerar normal essa perda de urina, pois nenhuma quantidade é normal e pode ser um fator de pior prognóstico quanto a essa doença para o futuro desta paciente, podendo se manter no puerpério de 6 a 30% dos casos.
A incontinência urinária na gestação pode chegar a 75% de prevalência e muitas vezes não temos essa percepção como profissionais. As pacientes não levam essa queixa com facilidade na consulta, devido à vergonha ou timidez, além do fato de considerar parte do processo da gravidez. Assim, notamos a importância do médico pré-natalista questionar a gestante sobre a queixa e assegurar uma assistência adequada. Essa ação é fundamental para garantir qualidade de vida durante o ciclo gravídico-puerperal e após, considerando todas as fases da mulher.
Quando temos o diagnóstico, podemos implementar o tratamento ainda na gestação, prescrevendo a fisioterapia do assoalho pélvico para fortalecimento e recrutamento muscular apropriado, minimizando as queixas e até promovendo a resolução completa do quadro. Além disso, no pós-parto, podemos manter as medidas fisioterápicas e orientar a paciente que, em um ano, ela apresentará a melhora máxima de seu quadro. Se isso não ocorrer de maneira satisfatória, torna-se primordial procurar um especialista para seguimento.
Agora precisamos desmistificar alguns conceitos: Mito ou Verdade?
1. Parto normal leva à incontinência urinária?
Mito.
Não exclusivamente. Temos múltiplas causas envolvidas como peso fetal, perímetro cefálico, tempo de período expulsivo, a assistência prestada no momento do parto e se houve lesão de musculaturas do assoalho pélvico.
2. A cesariana protege o assoalho pélvico? Impede a incontinência urinária?
Mito.
A gestação por si só já leva a modificações na musculatura e em toda a sustentação da pelve. Se tivermos um RN macrossômico, ou uma cesariana intraparto, por exemplo, essa proteção é discutível.
3. Todas as mulheres têm as mesmas chances de desenvolver incontinência urinária?
Mito.
Existem fatores genéticos. Pacientes caucasianas, por exemplo, têm maior risco. A própria atividade laboral, o ganho de peso ao longo da vida, prática de atividades físicas de alto impacto e a menopausa com hipoestrogenismo também são fatores que influenciam.
4. Não ter filhos protege da incontinência urinária?
Mito.
São múltiplos os fatores de risco para a perda urinária. Até mesmo a qualidade do colágeno pode influenciar, justificando mais casos em mulheres com certos perfis genéticos.
Em resumo, algumas mensagens importantes:
- Perda de urina não é normal em nenhuma situação;
- Se ocorrer na gestação, deve ser tratada e acompanhada adequadamente;
- O seguimento no pós-parto é essencial;
- Medidas conservadoras como fisioterapia devem ser a primeira linha de tratamento;
- Profissionais devem questionar ativamente suas pacientes para reduzir a perda do diagnóstico e garantir tratamento oportuno.
Matéria originalmente publicada no site da Revista Obstetrícia para Elas