Pressão alta: novo consenso brasileiro muda critérios de classificação

Nova diretriz introduz categoria de pré-hipertensão, atualiza metas de tratamento e aponta caminhos para reduzir riscos cardiovasculares

Nova diretriz introduz categoria de pré-hipertensão, atualiza metas de tratamento e aponta caminhos para reduzir riscos cardiovasculares

A nova Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial (DBHA 2025) — elaborada pela Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH) e Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN) — traz mudanças importantes no diagnóstico e no manejo da pressão alta. O documento criou a categoria de pré-hipertensão, para pessoas que têm pressão um pouco acima do normal, mas ainda não configuram hipertensão. Isso corresponde a valores de 12 a 13,9 para a pressão máxima (sistólica, quando o coração se contrai) e/ou 8 a 8,9 para a pressão mínima (diastólica, quando o coração relaxa)¹. A partir de 13 por 8, já deve ser feita uma avaliação completa de riscos adicionais, como diabetes, obesidade e alterações nos rins, no coração, nos olhos ou no cérebro¹.

A pressão alta é uma das condições crônicas mais comuns e graves do país. Segundo o VIGITEL 2023 — pesquisa telefônica do Ministério da Saúde que acompanha fatores de risco para doenças crônicas —, 27,9% dos adultos nas capitais brasileiras relataram diagnóstico médico de hipertensão, sendo mais frequente entre mulheres (29,3%) do que entre homens (26,4%)². Esses números reforçam a importância do novo documento, voltado a identificar precocemente quem tem maior risco de complicações cardiovasculares, como infarto, derrame e insuficiência renal.

O diagnóstico de hipertensão continua definido quando a pressão está em 14 por 9 ou mais, confirmado em pelo menos duas ocasiões diferentes¹. Mas a diretriz ressalta que medir só no consultório não basta. Sempre que possível, recomenda-se o uso de exames de monitorização, como o que mede a pressão ao longo de 24 horas com um aparelho portátil (MAPA) ou aquele feito em casa pelo próprio paciente em diferentes horários (MRPA)¹. Esses métodos ajudam a identificar situações como a hipertensão mascarada — quando a pressão sobe apenas fora do consultório — e a hipertensão do avental branco, que acontece quando a pressão se eleva apenas diante do médico.

Metas e tratamento da hipertensão 

A recomendação geral é manter a pressão abaixo de 13 por 8. Em pessoas idosas e muito frágeis, pode-se aceitar valores um pouco mais altos para evitar efeitos colaterais como tonturas ou quedas¹. Outro ponto enfatizado é a necessidade de evitar a chamada inércia terapêutica, ou seja, a demora em ajustar o tratamento quando ele não está funcionando. A nova diretriz recomenda que as revisões médicas sejam feitas a cada quatro semanas até que a pressão esteja controlada¹.

No tratamento medicamentoso, a orientação é começar já com a associação de dois remédios em baixas doses, de preferência em um único comprimido. Caso a meta não seja atingida, pode ser necessário avançar para três medicamentos combinados em uma só formulação¹. Certas combinações, no entanto, continuam proibidas por falta de benefício e aumento do risco de efeitos adversos.

Além da criação da pré-hipertensão e da atualização das metas, o documento também dialoga com o cenário internacional. Em 2024, a European Society of Cardiology (ESC) publicou suas diretrizes e passou a considerar como pressão elevada valores a partir de 12 por 8, com metas ainda mais rigorosas — manter a pressão entre 12 e 12,9 para a máxima e entre 7 e 7,9 para a mínima³. O consenso brasileiro, portanto, adotou uma posição intermediária: manteve 14 por 9 como ponto de corte para o diagnóstico, mas reconheceu a pré-hipertensão e recomendou acompanhamento precoce.

Apesar das diferenças, o objetivo é comum: reduzir a carga de doenças cardiovasculares. Ao formalizar a pré-hipertensão, atualizar metas e reforçar o acompanhamento, a DBHA 2025 amplia as possibilidades de prevenção e ajuda a reduzir o impacto da pressão alta na saúde dos brasileiros.


Referências

  1. Brandão AA, Rodrigues CIS, Bortolotto LA, Armstrong AC, Mulinari RA, Feitosa ADM, et al. Diretriz Brasileira de Hipertensão Arterial – 2025. Arquivos Brasileiros de Cardiologia. 2025;122(9):e20250624. DOI: https://doi.org/10.36660/abc.20250624
  2. Ministério da Saúde. VIGITEL Brasil 2023: Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico. Brasília: MS; 2024. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2024/abril/hipertensao-arterial-saude-alerta-para-a-importancia-da-prevencao-e-tratamento
  3. Williams B, Mancia G, Spiering W, Rosei EA, Azizi M, Burnier M, et al. 2024 ESC Guidelines for the management of arterial hypertension. European Heart Journal. 2024;45(32):2853–2938. DOI: https://doi.org/10.1093/eurheartj/ehae178
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Vívian Masutti Jonke

Médica cardiologista e arritmologista

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