Seu Coração Está Batendo Errado? Conheça as Arritmias Cardíacas

Condição atinge mais de milhões de brasileiros e causa 320 mil mortes por ano

Tempo de Leitura: 5 minutos

Uma em cada quatro pessoas vai desenvolver uma arritmia cardíaca ao longo da vida. No Brasil, essas alterações do ritmo cardíaco matam aproximadamente 320 mil pessoas por ano. Hoje, 12 de novembro, marca o Dia Nacional de Prevenção das Arritmias Cardíacas e Morte Súbita, criado justamente para alertar sobre um problema que já afeta mais de 20 milhões de brasileiros.

As estimativas variam entre 250 mil e 350 mil mortes anuais, mas a maioria dos estudos converge para os 320 mil óbitos¹. O dado mais assustador? Entre 80% e 90% das mortes súbitas por problemas cardiovasculares têm uma arritmia como gatilho².

O coração funciona como um relógio biológico perfeito. Possui um sistema elétrico próprio, comandado por uma estrutura chamada nó sinusal, localizada no átrio direito. Esse “marcapasso natural” envia sinais elétricos que fazem o músculo cardíaco contrair de forma coordenada. Quando tudo está certo, o órgão bate de maneira regular, entre 50 e 90 vezes por minuto¹.

Mas o que exatamente é uma arritmia? Simples: qualquer alteração no ritmo normal dos batimentos cardíacos. Pode ser uma pausa mais longa, batimentos extras, aceleração ou desaceleração inesperada. O problema acontece quando o sistema elétrico falha. Aí o coração dispara (taquicardia, mais de 100 batimentos por minuto em repouso), fica lento demais (bradicardia, menos de 50 por minuto) ou perde completamente o ritmo¹. Tem arritmia que passa sozinha e não causa problema nenhum. Outras podem matar.

O perigo é maior para quem já teve infarto ou convive com alguma doença cardíaca¹. Muita gente não sente nada, e a descoberta vem por acaso, num exame de rotina. Em alguns casos, a morte súbita é o primeiro — e último — sinal¹.

Fatores de Risco e Como Prevenir

Aqui vem a boa notícia: dá para prevenir. Os principais vilões são conhecidos e podem ser controlados. Pressão alta, diabetes, colesterol elevado, obesidade, vida sedentária e cigarro lideram a lista³. Estresse crônico e excesso de álcool e energéticos também entram na conta¹.

Alguns fatores, porém, não dá para mudar. A idade é um deles — quanto mais velho, maior o risco³. Histórico familiar de problemas cardíacos e cardiopatias congênitas também pesam na balança.

A receita da prevenção não tem segredo: largar o cigarro, comer mais frutas, verduras e legumes, se mexer com regularidade, manter o peso sob controle, aprender a lidar com o estresse e não deixar pressão alta, diabetes e colesterol descontrolados¹.

A Sociedade Brasileira de Cardiologia é clara: quem tem mais de 40 anos precisa fazer check-up cardíaco todo ano, com eletrocardiograma (ECG) incluso. Tem pressão alta, diabetes ou casos na família? Então comece antes. Um ECG simples pode flagrar uma arritmia silenciosa antes que ela vire tragédia.

Fibrilação Atrial: A Campeã das Arritmias

Entre todos os tipos, uma bate recorde de frequência e perigo: a fibrilação atrial. É disparado o tipo mais comum nos consultórios⁴. O problema? Os átrios — a parte de cima do coração — começam a bater rápido demais e sem ritmo nenhum. No Brasil, 2 milhões de pessoas sofrem com isso¹. Idosos são os mais atingidos.

O grande risco é o AVC. Quem tem fibrilação atrial tem cinco vezes mais chance de ter um derrame cerebral⁵. O coração descompassado não consegue bombear o sangue direito, e isso forma coágulos. Sem tratamento, aumentam também as chances de morte e internação, como mostra um estudo nacional que acompanhou mais de 4.500 casos⁵.

A medicina brasileira deu um salto recente no manejo da doença. A Diretriz de Fibrilação Atrial 2025 trouxe um sistema novo de classificação, parecido com o que já existe para câncer⁶. Funciona assim: Estágio 1 são pessoas com fatores de risco mas sem nada estrutural alterado ainda. No Estágio 2, já aparecem mudanças no coração. Estágio 3 é quando a arritmia aparece nos exames. Estágio 4? Virou permanente, sem volta⁶.

Isso ajuda bastante. Você e seu médico conseguem entender exatamente onde a coisa está e o que fazer. No começo, às vezes só mudar os hábitos já resolve. Mais pra frente, o tratamento certo evita um AVC. A nova diretriz também bate forte na ideia de equipe: cardiologista, eletrofisiologista, nefrologista, enfermeiro, fisioterapeuta, todo mundo junto⁶.

Sintomas: Quando Ligar o Alerta

Palpitações, vista escurecendo, tontura, desmaio, palidez, suor frio, mal-estar, dor no peito e falta de ar são os sinais mais comuns¹. Mas calma: nem toda palpitação é motivo de pânico. É normal o coração acelerar na academia ou quando você fica nervoso.

O que não é normal? Coração disparar do nada, batendo tão rápido que você nem consegue contar. Ou aquelas pausas longas seguidas de uma batida fortíssima. Aí sim, procure um médico.

Sentiu algo estranho? Vá ao cardiologista. Ele vai conversar, perguntar sobre histórico familiar, fazer exame físico e pedir um eletrocardiograma².

O eletrocardiograma é rápido, simples e basta para detectar muita coisa. Se precisar investigar mais, vem o Holter de 24 horas (um aparelhinho que você usa o dia todo gravando tudo), o ecocardiograma (ultrassom do coração), o teste ergométrico (aquele da esteira) e o estudo eletrofisiológico, esse só para casos mais complicados². Quem manda no tratamento é o arritmologista, o especialista em arritmias².

Tratamento: Tem Solução

Tem cura? Muitas vezes, sim. Depende do tipo e da gravidade. Casos leves respondem bem a medicamentos que controlam a frequência. Quando o remédio não funciona, entra a ablação por radiofrequência — um procedimento que vai até o coração por dentro das veias, sem cortar nada, e resolve de vez¹.

Nos casos mais graves, precisam de marcapasso ou cardioversor-desfibrilador implantado. São aparelhos reservados para arritmias de alto risco, batimentos muito lentos ou quando nada mais dá jeito. Mas fique tranquilo: hoje tem solução para praticamente tudo.

E atenção: em qualquer situação, mudar o estilo de vida não é opcional. Nos casos leves, às vezes é só isso que precisa.

Morte Súbita: Cada Segundo Conta

Mais de 95% das paradas cardíacas acontecem longe do hospital¹. Por isso, saber fazer reanimação básica faz diferença entre vida e morte. Se as manobras começam nos primeiros sete minutos, metade das vítimas sobrevive¹.

O desfibrilador automático — aquele que você vê em shopping e aeroporto — muda o jogo completamente quando usado certo¹. Esse número só reforça por que o diagnóstico precoce importa tanto.

Seu coração bate 100 mil vezes por dia. São 35 milhões de batidas por ano, sem parar. Trabalha pra você desde antes de você nascer até o último suspiro. Retribuir não é complicado: tem mais de 40 anos e não fez check-up no último ano? Agenda. Tem fator de risco? Vai no cardiologista. Sente palpitação direto? Não ignora. E começa hoje: caminha meia hora, tira o saleiro da mesa, larga o cigarro. Cuida dele. Seu coração merece. Sua família agradece.

  1. Ministério da Saúde (BR), Biblioteca Virtual em Saúde. “Não deixe o seu coração sair do ritmo”: 12/11 – Dia Nacional de Prevenção das Arritmias Cardíacas e Morte Súbita [Internet]. Brasília: Ministério da Saúde; 2024 [citado 2025 out 15]. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/nao-deixe-o-seu-coracao-sair-do-ritmo-12-11-dia-nacional-de-prevencao-das-arritmias-cardiacas-e-morte-subita/
  2. Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas. Arritmias cardíacas [Internet]. Brasília: TJDFT; [citado 2025 out 15]. Disponível em: https://www.tjdft.jus.br/informacoes/programas-projetos-e-acoes/pro-vida/dicas-de-saude/pilulas-de-saude/arritmias-cardiacas
  3. Oliveira GMM, Brant LCC, Polanczyk CA, Malta DC, Biolo A, Nascimento BR, et al. Estatística Cardiovascular – Brasil 2023. Arq Bras Cardiol. 2024;121(3):e20240079. doi: 10.36660/abc.20240079. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC11185831/
  4. Cintra FD, Figueiredo MJO. Fibrilação Atrial (Parte 1): Fisiopatologia, Fatores de Risco e Bases Terapêuticas. Arq Bras Cardiol. 2021;116(1):129-139. doi: 10.36660/abc.20200549. Disponível em: https://abccardiol.org/article/fibrilacao-atrial-parte-1-fisiopatologia-fatores-de-risco-e-bases-terapeuticas/
  5. Oliveira GMM, Brant LCC, Polanczyk CA, Malta DC, Biolo A, Nascimento BR, et al. Estatística Cardiovascular – Brasil 2023. Arq Bras Cardiol. 2024;121(3):e20240079. Capítulo 6 – Fibrilação Atrial e Flutter Atrial. doi: 10.36660/abc.20240079. Disponível em: https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC11185831/
  6. Cintra FD, Pisani CF, Rezende AGS, Henz BD, Armaganijan LV, Pimentel M, et al. Diretriz Brasileira de Fibrilação Atrial – 2025. Arq Bras Cardiol. 2025;122(9):e20250618. doi: 10.36660/abc.20250618. Disponível em: https://abccardiol.org/article/diretriz-brasileira-de-fibrilacao-atrial-2025/

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Vívian Masutti Jonke

Médica cardiologista e arritmologista, com atuação destacada nas áreas de gestão, tecnologia e inovação em saúde

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