
Logo de cara, um spoiler: não, a Terapia ILIB não é o milagre que andam vendendo por aí.
Mas se você já ouviu falar nela — e está pensando em experimentar — vale a pena entender por quê.
Imagine um tratamento com laser que diz renovar sua energia, retardar o envelhecimento, aliviar dores e até prevenir doenças. Tudo isso em poucas sessões, sem cirurgia, apenas com a aplicação de um laser de baixa potência sobre o pulso.
Parece bom demais para ser verdade? Pois é. Provavelmente é mesmo.
Nos últimos anos, a chamada Terapia ILIB, também conhecida como irradiação sanguínea a laser, se espalhou por clínicas de estética e bem-estar no Brasil. A sigla vem do inglês Intravascular Laser Irradiation of Blood — ou Irradiação a Laser Intravascular do Sangue.
A técnica foi criada em 1981 por dois cientistas soviéticos, E.N. Meschalkin e V.S. Sergiewski, inicialmente para tratar doenças cardiovasculares na Rússia¹. Desde então, passou a ser vendida como uma solução quase universal — da dor crônica ao rejuvenescimento.
Mas será que funciona mesmo?
Como a Terapia ILIB é aplicada
Na prática, o laser intravascular é aplicado sobre o pulso, na região da artéria radial¹.
A luz atravessaria a pele e alcançaria o sangue, onde, segundo os defensores da técnica, estimularia uma cascata de efeitos positivos: melhora na oxigenação dos tecidos, fortalecimento do sistema imunológico, redução do estresse oxidativo — aquele desgaste causado por radicais livres — e até regeneração celular.
Em teoria, isso levaria a um corpo mais equilibrado e com mais vitalidade. É uma proposta atraente, principalmente para quem busca alternativas menos invasivas.
Porém, antes de acreditar — e de pagar — é essencial saber o que as evidências científicas realmente mostram sobre a Terapia ILIB.
O que dizem os estudos e as comprovações científicas sobre a Terapia ILIB
Para que um tratamento seja reconhecido pela medicina baseada em evidências, ele precisa passar por um longo processo de validação.
Tudo começa com testes laboratoriais e avança para estudos clínicos com pessoas — de preferência comparando quem recebeu o tratamento com quem recebeu placebo, sem que médicos ou pacientes saibam quem está em qual grupo.
Só assim é possível saber se o resultado vem do método ou do acaso.
É nesse ponto que a Terapia ILIB ainda falha.
Uma revisão científica publicada em 2025 reuniu todos os estudos sérios disponíveis sobre a técnica². Foram encontrados apenas oito, com um total de 340 participantes — um número muito pequeno para gerar conclusões sólidas.
Os resultados mostraram alguma melhora em dor e inflamação, mas os próprios autores foram cautelosos: os dados ainda são insuficientes para confirmar os benefícios amplos divulgados comercialmente².
Outro levantamento, de 2020, analisou treze artigos sobre o uso do ILIB em doenças crônicas³.
O desfecho foi parecido: poucos estudos, metodologias frágeis e necessidade de pesquisas mais robustas³.
Em 2023, uma revisão voltada a doenças pulmonares reforçou o mesmo alerta — ainda não há comprovação científica suficiente⁴.
O problema, portanto, não é apenas a quantidade de pesquisas, mas a qualidade delas.
A maior parte do que se publicou até hoje são relatos de casos isolados ou experimentos pequenos, sem controle rigoroso.
Até agora, não há estudos clínicos de grande porte que comprovem de forma consistente os supostos efeitos da Terapia ILIB em rejuvenescimento, prevenção de doenças ou melhora global da saúde.
O que dizem a ANVISA e os órgãos de fiscalização no Brasil
No Brasil, a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) autoriza o uso de lasers de baixa potência para finalidades específicas — como cicatrização de feridas e alívio de dores localizadas⁵.
Mas isso não significa que o mesmo equipamento esteja validado para efeitos sistêmicos, como os prometidos pela Terapia ILIB.
O COFFITO (Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional) exige que fisioterapeutas utilizem apenas equipamentos registrados na ANVISA⁵.
No entanto, ter um dispositivo aprovado não quer dizer que todas as alegações associadas a ele sejam verdadeiras.
É como ter um carro com documentação em dia: ele pode rodar, mas não voar.
Embora o laser de baixa potência seja considerado seguro quando aplicado corretamente, a técnica ainda não tem estudos que mostrem os efeitos de longo prazo da exposição do sangue à luz, mesmo que de forma indireta.
Qualquer procedimento que envolva o sistema circulatório deve ser conduzido com prudência e respaldo científico.
O que realmente faz diferença para sua saúde
Com base nas evidências disponíveis, a Terapia ILIB, como é divulgada — com promessas de revitalização e cura ampla — não tem comprovação científica robusta.
As alegações continuam sem sustentação em pesquisas de qualidade, o que a coloca mais próxima de uma prática experimental do que de uma intervenção médica validada.
Ao contrário de lasers usados em fisioterapia, que têm eficácia comprovada no tratamento de dores localizadas e na cicatrização de feridas, o laser intravascular ainda carece de provas de que produza efeitos sistêmicos reais.
Cuidar da saúde é legítimo e necessário, mas o caminho mais seguro continua sendo aquele que passa pela ciência e pela medicina baseada em evidências.
Antes de investir tempo ou dinheiro, verifique se o tratamento tem base em estudos revisados por pares e publicados em revistas científicas reconhecidas.
Profissionais qualificados, registrados em seus conselhos, são quem pode oferecer orientações seguras — sem promessas fáceis.
Enquanto novas terapias surgem, é papel da sociedade exigir transparência e rigor nas evidências.
A Terapia ILIB, por enquanto, ainda não cumpre esses requisitos.
E quando o assunto é saúde, duvidar é sempre um ato de cuidado.
Para Levar a Sério
- A Terapia ILIB é uma forma de irradiação sanguínea a laser promovida como tratamento para dores, rejuvenescimento e prevenção de doenças.
- Até o momento, não há estudos clínicos de grande porte que comprovem seus supostos efeitos.
- As evidências disponíveis são pequenas e inconclusivas — insuficientes para validar promessas amplas.
- A ANVISA autoriza lasers de baixa potência apenas para usos locais, como dor e cicatrização, não para efeitos sistêmicos.
- Ter um equipamento aprovado não significa que ele seja eficaz para todas as finalidades divulgadas.
- Bem-estar se constrói com hábitos saudáveis e ciência confiável, não com promessas milagrosas.
- Em saúde, desconfiança informada é sempre um sinal de cuidado.
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- Bayrami J, Nematollahi F. The intravenous laser blood irradiation in chronic pain and fibromyalgia. J Lasers Med Sci. 2015;6(1):6-9. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/25699161/.
- Díaz L, Gil AC, Marttens AV, Basualdo J, Sotomayor C, Becerra AV, et al. The clinical efficacy of intravascular laser irradiation of blood (ILIB): A narrative review of randomized controlled trial. Photodiagnosis Photodyn Ther. 2025;53:104618. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/40324571/.
- Tomé RFF, Silva DFB, Dos Santos CAO, de Vasconcelos NG, Rolim AKA, de Castro Gomes DQ. ILIB (intravascular laser irradiation of blood) as an adjuvant therapy in the treatment of patients with chronic systemic diseases—an integrative literature review. Lasers Med Sci. 2020;35(9):1899-1907. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32656732/.
- Schapochnik A, Alonso PT, de Souza V, Rodrigues V, Quintela K, Cruz MDP, et al. Intravascular laser irradiation of blood (ILIB) used to treat lung diseases: a short critical review. Lasers Med Sci. 2023;38(1):93. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/36964849/.
- Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO). Normatização das Técnicas e recursos próprios da Fisioterapia Dermatofuncional. Disponível em: https://www.coffito.gov.br/nsite/?p=2473.